Morena estonteante

Certa tarde de segunda num arroubo,

Num ônibus subo, para não pensar tentar,

Na cadeira junto à porta me aquieto,

De onde possa cada um contemplar,

Que por ela desfila inquieto.

A um tempo que perdi sua noção,

Sobe naquele ônibus acolhedor,

Esguia morena, de decote sedutor,

Seus cabelos, negros e pesados,

Revelam sua condição de mimados.

Por mim passou, e nem olhou,

Mas em pé, ao meu lado ficou,

E aquele cheiro forte de cio,

Para resistir, ao meu sofrer me alio.

E sem pensar, num ímpeto me levanto

E à bela dama, meu assento, num acalanto,

Ofereço com gentil e desprendido encanto.

Naquela tarde, que na memória ficou,

Ela, para de todos, espanto,

Meus lábios beijou, sem pudor!