Primeiro amor

Lembra daquela casa abandonada

Aonde íamos aos finais de tarde?

Lembra da conversa ao pé do ouvido?

Lembra que te lambia para sentir o teu

Gosto?

Lembra que agarrava a sua mão forte

Alisava, cheirava, e sobre o meu calção

Em cima do brinquedo a colocava?

Lembra como você gostava?

Lembra que você agarrava a minha

Mão e a punha em seu peito?

De braços cruzados ficávamos...

Lembra como tudo de repente esquentava

E os nossos rostos vermelhos ficavam?

Lembra das juras de amor eterno

Que trocávamos?

Lembra quando você chamava

Aquilo de ousadia e tínhamos nomes

Engraçados para nossos brinquedos?

Lembra quando um dia no chão da

Velha casa descuidamos e dormimos

Agarrados?

Lembra que fomos acordados

Pelos gritos de teu pai já no terreiro?

Lembra que nos vestimos correndo

Espiamos pela fresta na parede; o candeeiro

Iluminava a cara brava do seu pai, lembra?

Lembra a desculpa que deu ao seu velho?

“papai estava na reza”; esta eu ouvi escondido

No eitão da sua casa, preocupado contigo

Fui ver o desfecho.

“humm, melhor assim, continue rezando”

Não vi o seu rosto, mas senti a expressão

De felicidade, feliz te imitei.

Por alguns anos três vezes por semana

Rezávamos, não víamos a hora de chegar

A quaresma, para rezarmos todos os dias.

Um dia, você me disse: “vamo-nos mudar para

Um lugar mais evoluído!”; foi a nossa sexta-feira

Mais triste; lembro-me como chorávamos. Lembra?

Lembro-me de suas mãos e rostos colados

Sobre o vidro do velho opala, os seus olhos

Tristes me diziam: “adeus!”

Lembro-me de tudo, por onde andas?

Autor Irineu Magalhães