O PIDIDO DO VAQUÊRO
O PIDIDO DO VAQUÊRO
Meu Padim, Pade Ciço,
Venho de novo le pidí,
Num é um pidido difiço,
Mai, é quê de novo tô aqui,
Refazeno minha jornada.
Venho também le agradicê,
A Vossa Graça arcançada,
Foi intervenção de vois mecê
De meu fio tê sido curado,
Nôto tempo em qui te pedi,
Em lágrimas, aqui ajoelhado,
Isso, te juro, nunca eu isquici,
Essa tua cura, o teu recado.
Mai, é qui trabaio de só a só,
Num sobra tempo prá vi aqui,
É uma labuta qui inté dá dó,
Do Vaquêro qui só sabe pidí.
Mai, agora meu Padim Ciço,
É coisa pôca o que te peço,
Tô veio, num poço vaquejá,
Nem a boiada poço manejá,
Mai, logo te digo de antemão
Eu já paguei pelo garrote,
Aquele qui sumiu lá no serrote,
Qui paguei cada mueda ao patrão.
Isso prá mim foi uma disgraça,
Dispois de incontrá só a carcaça,
E os urubus a sua volta no chão.
Poi, pecado num sei carregá,
E pô isso, peço logo perdão,
E também sua intervenção,
Na vida do fio qui vai herdá
Meu cavalo, arreios e o gibão,
E pelo o sertão vai campeá.
Sei, meu Padim, Pade Ciço,
Qui é dura essa nossa profissão,
De dumingo a dumingo é seiviço,
Nem pudemo recramar do patrão,
Poi, é dela que vem a cumida,
Prá butâ na mesa todo dia,
Também dos ispinhos a firida,
Mai, temo que honrar a famia,
Enfrentano a caatinga ispinhosa,
Incontrá aquela vaca manhosa,
Qui arisca, foge do rebanho só,
Prá o vaquêro num tem dô maió,
Qui é uma rês fugi sem dexá rasto,
E adespois só incontrá a carcaça,
Isso é coisa de causá disgosto,
Prá o Vaquêro é a maió disgraça.
Meu Padim, Pade Ciço,
Num quero mai delonga,
Meu fio também é Ciço,
E minha viagem é longa,
Quero qui proteja o seiviço,
Sua vida, nessa luta sem fim,
E tudo qui voismecê feis pro mim,
Faça prá ele nessa jornada,
Tirano os feitiços e os mandins,
Dessa vida de Vaquêro avexada.