O ricão do cabaré
Raimundo de Chico Inácio
É um cabra lá do sertão
E o mais estrategista
Que já deu na região.
Com os próprios camaradas
Pregava várias ciladas.
Ganhou diversas apostas
E com o seu jeito hilário
Dizia que o otário
Tem sempre o bolso nas costas.
Socorro de Margarida
Saiu lá de Conceição
Para morar em Campina
E num bar do Serrotão
Começou fazer programa,
Vendendo o corpo na cama
Fazendo da vida um show.
Quando de uma certa vez
Chegou por lá um freguês
Que por ela procurou.
Tinha umas quinze mulheres
No salão do cabaré
O cidadão foi entrando
E perguntando quem é
Socorro de Margarida?
Uma morena nutrida...
Disse assim: – Sou eu, amigo
E foi ficando de pé
Ele disse: – Quanto é
Pra você ficar comigo?
Ela foi lhe respondeu
É só cinquenta Reais.
O quarto é por minha conta
Não precisa nada mais.
Ele aceitou sem demora
E na hora de ir embora
Coçou a ponta da venta
E disse: foi bom demais
E deu trezentos reais
Ao invés de dar cinquenta.
Socorro barreu a quenga
Ficou pra lá e pra cá
O cara disse amanhã
Eu tornarei a voltar.
Quando foi no outro dia
Qu’ele chegou já havia
Vinte donas no salão.
Uma olhava, outra sorria
Querendo saber quem ia
Se abufelar com o ricão.
E pra surpresa de todas
Ele escolheu novamente
Socorro de Margarida
Que ficou muito contente.
E na hora de pagar
Ele pegou perguntar
Quanto lhe devo meu bem?
Socorro olhou para um lado
E de rosto desconfiado
Disse basta me dar cem.
O cara meteu a mão
Assim no bolso de trás
E arrastou novamente
Outros trezentos Reais.
Disse: – Tá aqui, rainha!
Socorro ficou branquinha
Da cor da casca de um ovo
Ele disse: – Eu vou embora
E amanhã na mesma hora
Estarei aqui de novo.
No outro dia o salão
Ficou bastante enfeitado
Botaram até na entrada
Um tapetão encarnado.
Cada cabocla bonita
Sorria, fazia fita
Cada qual mais atraente.
Imaginem que o plebeu
A mulher que escolheu
Foi Socorro novamente.
As outras mulheres todas
Ficaram de baixo astral
Sem saber o que Socorro
Tinha de especial.
E depois da furunfada
Socorro desconfiada
Na hora do pagamento
Que ele disse quanto é?
Ela respondeu: Seu Zé
Hoje basta dar duzento.
O cabra foi novamente
Com a mão no bolso de traz
E tirou para ela a quantia
De quatrocentos Reais.
Quando fez o pagamento
Socorro disse um momento
Hoje eu quero saber
O que tem em mim que lhe atrai
Daqui o senhor só sai
Depois de me responder.
Ele disse eu sou Raimundo
De Chico Inácio, querida
Venho lá de Conceição
E sua mãe Margarida
Vendeu lá duas vaquinhas,
Um bode e umas galinhas
E pediu pr’eu lhe procurar
Pagou a minha passagem
E mandou com muita coragem
Mil Reais pra lhe entregar.
do Poeta Amazan