O CURUMIM E O SOLIMÕES
(Para Lívia Cruz Severo)
Certa vez um curumim
Desses que moram
A beira do barranco
Sentado num velho banco
Perguntou ao mestre rio:
O que é Esperança?
O caudal, logo de pranto,
Respondeu sem espanto
Ao inquieto garoto:
A amiga Esperança,
É a luz que chega
E quebra a solidão
d’ alma do menino
Que chora de fome
E tem sede de vida!
O buliçoso curumim
Postando as mãos no queixo
Ao ver uma ariramba voar
Continuou a interpelar
As águas doiradas de peixe:
E, o que é Liberdade?
O majestoso rio sem bradar
Fez o solapar do banzeiro ressoar
A revide de tal interrogação:
A divina Liberdade...
É a luz viçosa
Que há de brilhar
Nos olhos tristonhos
Da miséria imperiosa
Que abraça o mundo!
O ditoso pequerrucho
Mostrando-se pretencioso
E avido de querer saber mais
Aproveitou a calmaria do cais
Para saudar a subida dos peixes!
Cessando, berrou: e a Vontade?
O oráculo rio dos Yurimáguas
Antes que a noite adorna-se suas águas
Novamente atendeu ao menino:
A virtuosa Vontade...
É como semente nobre
Lançada em solo fértil.
Porém, pouco vinga,
E, quando cresce,
Vez outra, esmorece!
Instigado pela incerteza
Retruca o curumim:
Mas, o que devemos fazer
Se a Esperança morrer?
Se a Liberdade dormitar,
E a Vontade fugir?
O Solimões depois de ouvir o Jutaí
O Juruá, o Mineruá e o mágico Cajaraí
Ao moçoilo caboclo respondeu:
Oh, Sábio curumim
Feito trovão incessante
Tuas inquietações pujantes
Jamais terão fim!
Mesmo assim ouso lhe dizer:
Continuas a caminhar...
Manaus (AM), 20/10/2016