MAIS UM LAMENTO SERTANEJO

Sei di agora qui num é a primera véis
Qui um nordestino faz um lamento
Mai, meu Pade Ciço aqui num sobra rêis
Cada dia é láigrima nos zói, só sufrimento.

O agôro di seus berro é crué i di dá dó
Os caminho tem carcaça dus dói lado
Inté na gaiola calô meu penoso curió
Laiguei a inchada, foice, e o seco roçado.

Minha discrença parece pisar toda crença
Di um tempo di fartura e açude cheio
Essa lembrança nessa ôra parece sentença
Poi nos óios só resto di láigrima e aperreio.

Inquanto nóis faz reza e novena todo dia
Os mandatários du puder si farta e rí
Sei qui é pidí muito, podi dá inté agunia
Pertubá os home du puder cum nosso mártí.

Mai, pelo u jeito num tem ôta solução
Nois tá na carência di água e cumida
O bucho aperta náis rês e nu povo du sertão
Inquanto o sô queima a pele e fáis firida.

É todo vivente aqui dessa banda do norte
Qui sofre cum fáita di água e di alimento
Parece inté qui todo vivente tem fáita de sorte
Ô é argum castigo du cê pur tanto lamento.

Cadê o tá du Velho Chico, qui ia irrigar o sertão
Será qui os home du puder isquecero de nóis
Ô só inganaro nóis e nu diero tudo metéro a mão
Poi aqui tá tão seco qui num sobrô nem avelóz.

E só posso dizê a Pade Ciço qui rogue pu nóis
Poi, a justiça qui cêga aqui nunca siquê inxergô
I surda nunca quis uví uma palavra di nossa vóz
I quando quê falá arguma coisa, só gaguejô.
Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 15/10/2016
Reeditado em 11/09/2017
Código do texto: T5792879
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