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CAMINHOS DE SANTIAGO
TODOS OS CAMINHOS VÃO DAR A SANTIAGO

Por A. Lourenço Fontes

CAMINHOS DOS TOPÓNIMOS

O caminho santiaguês trouxe a devoção e a devoção fez o caminho da cultura e religiosidade popular. Deu nome e moldou igrejas e crenças que unem a Galiza a Barroso.

Há por Portugal abaixo, do Norte ao Sul, pequenas aldeias, vilas e cidades com o nome Santiago, revelando-nos o largo âmbito da devoção medieval ao grande Apóstolo que eternizou a Galiza. Caminhemos desde o Sul Português, temos a cidade de Santiago do Cacém, ao centro na Serra da Estrela, há Santiago em Seia, em Viseu tem 3 Santiagos, encontramos também em Penafiel e em Lamego, em Armamar, em Valpaços, em Valença do Minho.

Outros topónimos em Portugal se ligam ao hábito de peregrinar dos cristãos, aos romeiros.

Assim encontramos a aldeia do Romeu (Mirandela), castelo do Romão (Montalegre) Romainho (Boticas) e Romariz (Vila da Feira).

Os topónimos Pousada, Pousadouro, Paço, Albergaria, Hospital, Parada, Paradela, Paradinha, Mosteiro, convento, forno, Ponte, Porto, Barca, indicavam ao peregrino algumas vantagens e apoios, obrigando-os às vezes a desviar-se ao lado, seja para pousar, parar, ser tratado, passar o rio na ponte ou na barca.

OS PAÇOS

A maioria dos solares, casas nobres, paços, foram fundados com fins assistências, no interior do país, nas zonas ermas ou menos povoadas, ou até nas margens de ribeiras, com capelas, capelão, botica e outros apoios, que a religiosidade medieval aconselhava. Muitos destes paços deram nome a vilas, aldeias e cidades, desde Paço d’Arcos (Lisboa), Santarém, Viseu, S.João da Medeira, Aveiro, Penafiel, Porto, Viana do Castelo, Vila Real, Régua, Bragança, Braga.

PARADA

Ainda as terras com o nome de Parada e Paradinha se encontram por todo o país sobretudo no norte montanhoso, mais de duas dúzias de povos: Castelo Branco, Guarda (5), Parada (25), Paradela (17), Paradinha (4), Paço (6), Paçó (2), Paços (9), Assento (15), Albergaria (50), algumas 24 gafarias, (gafos, Gafanha, terras de leprosos), que de uma forma ou doutora se podem relacionar e alinhar nas rotas medievais dos caminhos de romeiros e pelingrinos.

Em Barroso, Galiza, nas Beiras e Alta Minho podemos ainda acrescentar aos fornos do povo, sempre abertos, quentes e com pão quente para comer e palha para dormir uma noite e a hospitalidade destes povos que sempre dava a esmola ao peregrino e lhe tratava as feridas com remédios da botica da aldeia.

Os Santuários, capelas e casas paroquiais, dispersas pelo país, acolhiam nos seus alpendres ou palheiros quentes todo o que à porta demandava guarida e orientação no caminho, em troca da reza pelas almas e da oração do peregrino pelo seu benfeitor.

HAGIOTOPONÍMIA

A hagiotoponímia de Santiago é frequente não só em igrejas paroquiais, capelas públicas e privadas, como até dá nome a vários povos. Também a estatuária, e altares a Santiago dedicados nos falam não só dum culto medieval, como podem ser como todos os outros dados referidos sinais de passagem, e orientação rumo ao Norte Galego, no topo de Portugal minhoto ou transmontano.

SANTIAGO PATRONO

Santiago é padroeiro de 43 freguesias na diocese de Braga, de 31 no Porto, de 26 em Viana do Castelo, de 17 na de Vila Real, e 14 em Bragança, num total de 137 paróquias. Registam-se ainda 12 aldeias com capelas de Santiago, na diocese de Vila Real, 9 na de Viana do Castelo, 6 na de Bragança, 4 em Braga, e 2 no Porto.

Quanto mais caminhamos para a fronteira, maior é a influência e devoção, com festas e romarias dia 25 de Julho. No Norte o mês de Julho também lhe chamam mês de Santiago, como ao Junho é S. João.

CAMINHO TRANSMONTANOS GALAICOS

Porto, Braga e Chaves eram os maiores pólos de acompanhamento do viandante.

No Porto havia no século XV 14 hospitais: S. Catarina, Santiago, Nossa Sª do Cais, Da Reboleira, Dos Gafos (Espírito Santo), do Salvador, dos Palmeiros, S. Crispim e S. Crispiano, S. Clara, Teresa Vaz Daltaro, Rocamador, S. João Batista, dos Clérigos e o de Cimo de Vila.

Segundo o peregrino italiano, Pe J. B. Confalonieri em 1957 levou 7 dias do Porto a Compostela, andando 5 a 6 léguas por dia.

Os que chegavam ao Porto podiam ir por S. Tirso, Guimarães, a Trás os Montes, ou por Braga, ou ainda pela orla litoral, caras a Viana, Caminha, ou mesmo pela via marítima.

A capital do Minho, capital do reino suevo, sede do arcebispo primaz das Espanhas, impunha-se a Compostela e tentou com os seus santuários a concorrência.

A igreja visigótica e relíquias de S. Frutuoso, os mosteiros à volta da região minhota, Tibães (s. XVIII), o benedito de Rendufe (s.XII), o de S. Maria de Bouro, parecem perfilar-se, apontando ao peregrino mais umas léguas onde tem garantida guarida.

Partindo da cidade dos Arcebispos, capital antiga da Galecia, e da evangelização, o peregrino segue o vale do Cavado pisa a via romana Braga Chaves.

É possível que uma grande parte destes demandassem Terras de Bouro, à Portela de Homem, pelas Caldas do Geres, Albergaria, e daqui às Caldas de Lobios, Bande (S. Tiago) e Mosteiro de Celanova, com as relíquias do Tirense S. Rosendo.

No tempo mais suave subiam as altas encostas e vales do Geres e planalto da Mourela na região de Montalegre, com apoio nos monges de santa Maria de Pitões das Júnias, que na maior parte da sua vida estaria em ruínas.

Chaves, com seus castelos e torres na fronteira, era ponto seguro e farto para a passagem.

Fala-se em mosteiros e albergarias, em várias terras de Chaves. A rainha D. Mafalda fundou aí uma albergaria sob a invocação de S. Maria Madalena. Também funcionou em Chaves o Hospital de Roquemador vocacionado também para a assistência a doentes e peregrinos.

Havia-os em várias cidades sobretudo no Norte, Porto, Braga, Guimarães, Lamego e Chaves, cujo distintivo é a Palma, (Palmeiros) símbolo dos romeiros de Jerusalém.

Ainda em Chaves se fundou a albergaria de S. Catarina, junto às termas; hoje existe apenas a capela. Mas a maior albergaria e mais rica seria o albergue dos Duques de Bragança, mais tarde em 1498 foi a Confraria da Misericórdia.

CAMINHO TRANSMONTANOS GALAICOS

Porto, Braga e Chaves eram os maiores pólos de acompanhamento do viandante.

No Porto havia no século XV 14 hospitais: S. Catarina, Santiago, Nossa Sª do Cais, Da Reboleira, Dos Gafos (Espírito Santo), do Salvador, dos Palmeiros, S. Crispim e S. Crispiano, S. Clara, Teresa Vaz Daltaro, Rocamador, S. João Batista, dos Clérigos e o de Cimo de Vila.

Segundo o peregrino italiano, Pe J. B. Confalonieri em 1957 levou 7 dias do Porto a Compostela, andando 5 a 6 léguas por dia.

Os que chegavam ao Porto podiam ir por S. Tirso, Guimarães, a Trás os Montes, ou por Braga, ou ainda pela orla litoral, caras a Viana, Caminha, ou mesmo pela via marítima.

A capital do Minho, capital do reino suevo, sede do arcebispo primaz das Espanhas, impunha-se a Compostela e tentou com os seus santuários a concorrência.

A igreja visigótica e relíquias de S. Frutuoso, os mosteiros à volta da região minhota, Tibães (s. XVIII), o benedito de Rendufe (s.XII), o de S. Maria de Bouro, parecem perfilar-se, apontando ao peregrino mais umas léguas onde tem garantida guarida.

Partindo da cidade dos Arcebispos, capital antiga da Galecia, e da evangelização, o peregrino segue o vale do Cavado pisa a via romana Braga Chaves.

É possível que uma grande parte destes demandassem Terras de Bouro, à Portela de Homem, pelas Caldas do Geres, Albergaria, e daqui às Caldas de Lobios, Bande (S. Tiago) e Mosteiro de Celanova, com as relíquias do Tirense S. Rosendo.

No tempo mais suave subiam as altas encostas e vales do Geres e planalto da Mourela na região de Montalegre, com apoio nos monges de santa Maria de Pitões das Júnias, que na maior parte da sua vida estaria em ruínas.

Chaves, com seus castelos e torres na fronteira, era ponto seguro e farto para a passagem.

Fala-se em mosteiros e albergarias, em várias terras de Chaves. A rainha D. Mafalda fundou aí uma albergaria sob a invocação de S. Maria Madalena. Também funcionou em Chaves o Hospital de Roquemador vocacionado também para a assistência a doentes e peregrinos. Havia-os em várias cidades sobretudo no Norte, Porto, Braga, Guimarães, Lamego e Chaves, cujo distintivo é a Palma, (Palmeiros) símbolo dos romeiros de Jerusalém.

Ainda em Chaves se fundou a albergaria de S. Catarina, junto às termas; hoje existe apenas a capela. Mas a maior albergaria e mais rica seria o albergue dos Duques de Bragança, mais tarde em 1498 foi a Confraria da Misericórdia.

Minho e Trás os Montes era o primeiro destino de qualquer romeiro, vindo do centro e sul de Portugal. O Minho é um rio largo e de poucas pontes, fronteira difícil com Galiza é provável que a maioria dos peregrinos se orientasse, desviando do Minho para as serras e raia seca Transmontana onde a passagem era mais fácil e barata, dado que os barqueiros levavam sempre dinheiro e obrigavam por vezes o peregrino a sustos para o saquearem das suas esmolas e haveres.

Referenciamos a hipótese de uma via ao longo da fronteira Salamantina, que receberia peregrinos espanhóis das margens do Douro.

Traçamos os caminhos por onde é orago Santiago, desde Freixo de espada à Cinta (Ligares), daqui à Vila da Torre de Moncorvo, a Parada (Alfandega da Fé), a Vila da Ala (Mogadouro), Talhinhas ( Macedo), A Coelhoso (Izeda), Reboradãos, Bragança, e por certo daqui ao Convento de Castro de Avelãs, a Vinhais, Moimenta para entrar em Espanha (Mesquita).

No distrito de Vila Real podemos apontar algumas 4 vias principais também orientados pelos pontos onde Santiago tem paróquia, ou capela

CAMINHOS TRANSMONTANOS

1. Seria a via principal a das margens do Corgo e Tâmega, e começamos a partir de Castro Daire, Magueija, Lamego, Régua, Fontes, Folhadela, Soutelo de Aguiar e Bornes (V. Pouca), Oura, Vilela, Chaves, Seara Velha, Ardãos, Erevededo, Vilarelho da Raia (Chaves), Vilar de Perdizes (Montalegre) para entrar logo na Galiza, caminho da Gironda, a Vilela, A Alhariz, Ourense. Só na diocese de Ourense há 43 paróquias com o padroeiro S. Tiago, que igual que em Portugal eram focos de peregrinos e sinais de velhos caminhos medievais. O peregrino tinha como guia e devocionário o Tratado de Confissom, primeiro livro, editado em Chaves, em português.

2. Continuando apenas a referir locais ligados ao culto santiaguês traça-se uma segunda via mais montanhosa, que viria desde o Porto, Amarante, Vila Cova, nas faldas da serra do Marão, Andrães, Mondrões, Lamas de Olo (Vila Real), Limões (Ribeira de Pena), Cerdedo (Boticas), Caniço, Fervidelas, Mourilhe (Montalegre), com veneração das relíquias de Santiago e muitas outras apoiados pela casa do Outão agora transformada por mim em Hotel Rural. Entrava-se, pelo picoto do Romeu (romeiro) logo em Santiago de Rubiás, couto Misto Galego e Português, passando pela zona Mista, Portuguesa e Galega, Santiago de Rubiás dos Mistos, Calvos de Rendin, Santuário dos Milagros em Couso, Bande, Celanova...

3. Uma terceira leva de peregrinos viria das margens do Tua, desde Sanfins do Douro, Vila Chã (Alijó), Murça, Santiago de Alhariz, S. Valha (Valpaços), S. Tiago do Monte, Oucideres, Tronco, Mairos (Chaves), para entrar em Espanha, por Vilar de Bós, onde havia Hospital que dá o nome ao povo e outro com nome de O sonho (O soño), por certo lugar onde se dormia. Aqui encontravam-se por Monterrey e Albarelhos com as levas de peregrinos vindos de Bragança, da Gudinha e do Sul de Espanha.

4. A quarta via seguiria o Vale do Cavado, desde Barcelos, Vila Verde, Braga, Amares, Póvoa de Lanhoso, Vieira, por Fafião (Cabril), até Paradela do Rio, Parada em direcção ao Mosteiro cisterciense de Pitões das Júnias (s.XII), daqui a Requiás. Nesta aldeia raiana galega lugar de descanso (requiem), havia casa para apoio, seguindo a Bande (S. Tiago), a terra de S. Comba, capela visigótica e logo surgia o mosteiro em Celanova, o Santo Cristo de Catedral de Ourense, as burgas, de águas ferventes como em Chaves, onde se faria o lava pés, a ponte romana, o Convento de Osseira e o almejado Santiago de Compostela.

O caminho Português tão esquecido, por ser no tempo o mais corrido e banal, foi menos estudado e falado que o caminho francês, talvez por este vir de longe e de terras com nome de civilizadas e das luzes. As inimizades com Portugal dos reis e políticos sempre silenciaram Portugal, por sentirem uma ameaça de qualquer novo Afonso Henriques tentar conquistar o reino da Galiza, tão indiferente como distante de Madrid.

Hospitais

As grandes capitais portuguesas desde Coimbra, Porto, Braga, Miranda, Viseu, Guarda, Chaves, mais densas e ricas e protegidas e bem situadas, com suas altas torres, conventos, abadias, igrejas, hospitais, misericórdias, irmandades de Santiago ou Confrarias, eram pólos de atracção, catalizadores de romeiros, ate fins do séc.XVII.

O peregrino nestes lugares encontrava trato, alimento e descanso para o espírito. O boticário, com suas mesinhas e unguentos conventuais, o o frade com a missa, indulgencia e confissão, confortavam todos os anseios que o romeiro ao túmulo do Apóstolo mais jovem levava.

Por estes caminhos romanos e medievais trilhados por carros de bois, passeados por almocreves , cavalos e burros eram companheiros, assim como outros mendigos, que se guiavam mutuamente.

Os pontos de referência por um lado eram os rios, as pontes, as serras altas, as torres de igrejas e castelos. E de noite ou se parava ou se guiavam pela estrada de Santiago a Estela Polar, o 7 estrelo.

E todos lá tinham de ir ou em vida ou de morto.

Quando alguém hoje morre, a primeira coisa a fazer é calçá-lo e diz-se a oração: alma vai para Santiago, na mesma velha crença que antes de ir para o Céu, tem de passar por Santiago.

Vilar de Perdizes, atraia ainda o romeiro logo na Primavera como o Acto da Paixão, a representação da morte e Paixão de Cristo. E no começo do Verão com a festa grande da Senhora da Saúde, onde Galegos e Barrosões se juntavam e aqueles eram também guia dos que seguiam Caminho por Ginzo ao S. João e por Ourense visitar o Santo Cristo, lavar as chagas nas Burgas de águas termais e seguir pela ponte romana para Compostela.

De dia o peregrino caminhava 5 a 6 léguas, embrulhado no seu capote de abas largas, coberto de chapéu negro de aba descaída para a chuva e levantada para o calor, com cabaça e vieira á cinta, apoiado no seu cajado, coçado, luzidio, ás vezes artístico, ou benguela de lodo. De noite parava, ou, se a pressa ou promessa urgiam, caminhava à luz da lua cheia, e do setestrelo, e sobretudo da estrada de Santiago (via láctea), nome inventado para dar importância a esta romaria obrigatória a todo o cristão, que se lá não vai em vida tem de ir lá em morto.

Os caminhos de Santiago e o paço e hospital de Vilar de Perdizes

A origem deste paço está intimamente ligada a Santiago de Compostela, pois a criação inicial de botica e hospital tinha como objectivo o apoio a esses peregrinos. Analisando a rede viária romana e medieval, os principais afluxos de peregrinos para Santiago deveriam chegar sobretudo pela via que vinda da Beira Alta (Lamego) apanha a estrada romana Vila Real – Chaves e que depois de Oura, inflecte em Santa Eulália de Anelhe para Vilar de Perdizes passando em Redondelo e Calvão, ou a que vinha da Beira Baixa segue por Idanha-a-Velha, Guarda, Marialva, Mirandela, Valpaços, Valtelhas, Vilarandelo e Chaves.

De Chaves este segundo trajecto apanha a “estrada das capelas” ou “estrada velha de Montalegre” por Sanjurge, calçada do Lapelo, Paimogo, São Caetano, Soutelinho da Raia e Vilar de Perdizes. Á saída de Soutelinho o caminho principal apanhava a calçada que segue paralela à fronteira até à ponte da Assureira, vencia o Monte Meão até à ponte de Chaves e, passada esta, curva junto à Alminha de Ás-da-Loba, seguindo depois sobre a actual estrada nacional até se desviar para N. para atravessar o lameiro a O. da Fraga da caravela e entrar, a direito em Vilar de Perdizes a meia encosta do monte da Cruz apanhando a vreia, até à parada do Paço e ao hospital.

De Vilar de Perdizes o caminho principal seguiria pelo caminho real que assente em calçada romana passa perto do Castro de São Millan, em direcção a Lucenza, Ginzo e Ourense. O hospital teria capacidade para 9 a 12 catres. A tradição oral de Vilar de Perdizes diz que quem agarrasse as argolas existentes na frontaria do hospital ficava sob jurisdição do Morgado e não poderia ser perseguido. Julga-se que nessa época nas proximidades estaria a residência do Abade António de Sousa. Nos termos da instituição do Morgadio, e da organização tradicional do exército português, existiam unidades militares formadas por soldados da terra, sob o comando do Morgado, que formavam no terreiro fronteiro ao Paço, ainda hoje conhecido por “parada”. Há registo de que o 9º Morgado de Vilar de Perdizes, João António de Sousa Pereira Coutinho, possuía no Paço uma biblioteca com 4000 volumes. O solar de Vilar de Perdizes terá ainda desempenhado um papel importante na introdução da cultura do bicho-da-seda em Trás-os-Montes, tendo as primeiras experiências sido aí realizadas. Aliás, uma amoreira centenária testemunha dessa tentativa sobreviveu no Parada do Paço até há poucos anos.

Inscrições: 1- Inscrição gravada na padieira da entrada do hospital; granito; sem moldura com duas volutas a enquadrar a data; tipo de letra; capital quadrada; leitura: “HOSPITAL PARA AGASALHO DOS ROMEIROS DE SANTIAGO, ANO DE 1724”; 2- Sepultura da capela: “AQUI JAZ DONA MARIA DA GRAÇA DE SOUSA PEREIRA COUTINHO SEGUNDO VISCON DESSA DAS NOGUEIRAS. FILHA MAIS VELHA DE ANTÓNIO DE SOUSA PEREIRA COUTINHO MORAGADO DE VILAR DE PERDIZES- FALECIDA A TREZE DE FEVEREIRO DE MIL NOVECENTOS E VINTE E TRÊS.”

No conselho de Montalegre, além dos fornos do povo de todas as aldeias, duas terras eram conhecidas dos romeiros: Pitões da Júnias pelo seu convento cistercience, e V.Perdizes pelo Paço, um em cada extremo do conselho. Pitões desde o sec.XII, são testemunhas de que por estas bandas era frequente: o peregrino pedir assistência na viagem. Num lado o clero, noutro a nobreza e clero dos Morgados de Vilar de Perdizes davam do que lhes sobrava, até para justificarem privilégios pontifícios ou régios que tinham.

O peregrino nestes lugares encontrava trato, alimento e descanso para o espírito. O boticário, com suas mesinhas e unguentos conventuais, o o frade com a missa, indulgencia e confissão, confortavam todos os anseios que o romeiro ao túmulo do Apóstolo mais jovem levava.

Por estes caminhos romanos e medievais trilhados por carros de bois, passeados por almocreves , cavalos e burros eram companheiros, assim como outros mendigos, que se guiavam mutuamente.

Os pontos de referência por um lado eram os rios, as pontes, as serras altas, as torres de igrejas e castelos. E de noite ou se parava ou se guiavam pela estrada de Santiago a Estela Polar, o 7 estrelo.

E todos lá tinham de ir ou em vida ou de morto.

Quando alguém hoje morre ainda se lhe diz a oração: alma vai para Santiago, na mesma velha crença que antes de ir para o Céu, tem de passar por Santiago.

Vilar de Perdizes, atraia ainda o romeiro logo na Primavera como o Acto da Paixão, a representação da morte e Paixão de Cristo. E no começo do Verão com a festa grande da Senhora da Saúde, onde Galegos e Barrosões se juntavam e aqueles eram também guia dos que seguiam Caminho por Ginzo ao S. João e por Ourense visitar o Santo Cristo, lavar as chagas nas Burgas ou águas termais e seguir pela ponte romana para Compostela.

tema apresentado em Ourense , 26/4/08