Minha Vida (Cecitonio Coelho)
Agora que nasci, desejo respirar o ar do pasto da minha terra
Embora tão logo, sinta o cheiro de esterco, tudo na roça é mais gostoso
Acordar cedo e sentir a umidade do sereno com o som dos animais
Tomar café no bule do fogão à lenha com beiju e bolo de fubá
Pedir bença ao beijar a mão e abaixar-se a respeitar pai, mãe e vó
Pisei no barro molhado de ajeitar na forma a moldar tijolo
Esperança de secar sem quebra pra queimar na caieira do barracão
Degustei marmita feita na cidade com carinho e amor de irmãs
Banho de rio e de chuva extravasando alegria que pareceu sonhada
No cair da tarde, contemplar as cores no céu da nossa olaria
Acender fogueira pra escutar estórias velhas do nosso folclore
Tapas nas muriçocas e outras espécimes ao passar querosene
Gargalhar do medo e no travesseiro, repensar a fé e ter coragem
Na febre da infância, medo da injeção e pavor do dentista
Jogar pelada e bolinha de gude imaginando o filme de domingo no cinema velho
Aprender a conhecer e respirar música no salão da Lira Mateense
Ouvir dobrados e acordar feliz com o som da alvorada
O dia que chegou, e poder tocar na banda pela primeira vez
Quanto orgulho ao desfilar de calça curta, na moda daquele tempo
Tudo foi pra mim, assim como hoje, tudo que preservo aqui dentro
A arte de tocar e compor me envolveu e reside em mim, o nosso abraço
O quão encantadora ela é pra mim, suas notas e acordes...
Até mesmo seu silêncio, me emociona infinitamente como obra inacabada
Protegendo o nosso caso intenso, tenho sede a todo instante
Em casa ou em qualquer lugar, concretizo o amor a dois
Presente em todos os atos e solos de lúdicas apresentações
Na Lira e bandas marciais, festivais regionais e muitos bailes
Viagens em vai e vem constante, trazendo quem vive longe
Aproximando e perpetuando esse sentimento belo e sincero
Como a luz, a comida e água em minhas necessidades mentais
Floreando as cordas em casa de madeira nobre, separada por trastes
Do braço da planta que reviveu ao emitir o som do violão
Querido, escolhido que me acolheu e me deixa descansar da lida do dia
Quando chega a noite, ele vem me consolar quando estou a tocar
Quero esse querer e sempre alçar voo, e em seu corpo dedilhar