Lembranças de Oriximiná...

Oriximiná não foi a terra em que eu nasci

Mas foi onde meus pais escolheram pra viver

Lá cresci, brinquei, estudei, amigos eu conquistei

Tinha o bole-bole de caroço polido de mucajá

Pular elástico no intervalo das aulas era a sensação

A curumizada fechava a rua para brincar de bandeirinha

Depois de muito correr e suar tinha que tomar banho pra tirar o pixé

Os meninos atentados de boa pontaria balavam as osgas e os calangos

Tomei açaí com farinha de tapioca torrada de quebrar o dente

Tacacá na cuia com bastante camarão, folha de jambu e tucupi

Tacava-lhe farofa amarelinha na maniçoba quentinha

O cheirinho do caribé com manteiga não me sai da memória

Os bolinhos de crueira ou de farinha fritinhos na hora acabavam rápido

O famoso mingau de banana grande com leite enchia a gente

Cada ruída de tucumã uma colher de baguda com café

O abacate era amassado com açúcar, leite em pó e farinha

Sem falar no suco de cupuaçu com caroço

Amassado com as mãos, feito pela mamãe

No vinho fresquinho de bacaba e de muruci

E pra matar a broca ata, abil, pitomba, uxi, ingá ou mari-mari

Pupunha cozida com sal e nem pensar em comer o coco do caroço

Porque deixaria quem comece burro de lascar o casco da canoa

Na banquinha de vendas do canto a pedida certa era flau com berlinda

Na Tia Santinha não podia faltar o bolo de macaxeira e o croquete

No lanche da manhã ou da tarde a famosa, única e original piçoleta

E para os mais chegados o beiju peteca, seco ou de tapioca lá da feira

Ah... castanha cristalizada nas festas quanto mais comia mais queria...

Tu é leso é? Comidas como as de lá não se vê pelas bandas daqui

Calderada de tucunaré e na brasa com pimenta o famoso tambaqui

Axi que o desfiado de pirarucu seco e o piracuí não são tão pitiús

Mas tem peixe que só pode se comer assado e na hora, como o mapará

Ta bem na foto quem tem o prazer de degustar os sabores do Pará

Espiar o pôr do sol na margem do rio ou de dentro de uma embarcação

É uma imagem ímpar de beleza sem igual que enchem meus olhos d’água

Tibum... tchobou... dentro do igarapé gelado da saudosa Laudica

Tibum... tchobou... na praia do Caipurú, Mirizal e Ponta do Violão

Tibum... tchobou... na cachoeira do Jatuarana a beira da estrada

Tibum... tchobou... na orla do Iripixi ou no trapiche da cidade

Tibum... tchobou... na Paragás ou na Barreirinha

Todos os anos grandes festivais na Fazenda Tucumã

Os bailes nos clubes da cidade: Natureza, Bancrévea e Santo Antonio

Eram embalados pela Banda Frisson ou pelas aparelhagens

Lembro-me da lambada, do tecnobrega, do carimbo e dos festivais

O do Nicolino era o mais falado com danças inesquecíveis

Apreciar na Praça do Centenário o mirante, os peixes e o come pinto

Vê se me erra aquele que só fala budida na vida pra se aparecer

Quem é do Cachoeri fala alto, rápido, atropelando as palavras

Mas para, mas vixe, mas credo, mas oh, mas quando expressões tão vivas

Em medidas o “P” não é de pequeno, e sim de purrudo

E o “G” não é do tamanho grande, e sim de gitinho

Quem sai de Orixi tiquinho não pode voltar cheio de pavulagem

Se não vai servir de caçoada e vai ter que se orientar

Di rocha quem ficasse no sereno ficaria resfriado

E ainda tem quem diga que manga com leite dava dor de barriga

Gostoso mesmo é ela apanhada verde e comida com sal

Os papudinhos da rua sempre altos de cachaça

As faladeiras sempre de plantão e eu capava o gato

Quem nunca teve medo de mucura ou de mata-mata?

Quem nunca correu de assombro da loira do Tonhão?

Quem nunca ficou apavorado com os rezadores de alma?

Seja curumim ou cuiantã, ribeirinho do interior do interior, caboclo da cidade

É povo bom e hospitaleiro que se espoca de tanto rir quando a piada é boa

Ta bom pra ti parente? Hein manozinho? Humm humm paresque ta...

Pinduca, grande figura popular canta “Terra boa é o Pará”

Deixei com pesar meu chão, mas um dia quero voltar pra matar

Tantas saudades que sinto de lá, do meu grande e suntuoso Pará