Invasão do Tape

No azul do céu a garça branca voa

Quanta liberdade das aves na Lagoa!

Gritam bugios na direção oposta

No sul venta o minuano desnorteado

Vê-se estranho movimento do outro lado

Um monstro se aproxima aqui da costa

Desliza n’água aquele bicho enorme

Antes que a natureza se transforme

Tapiretan segura forte o seu tacape

Na grande figueira ganha altura

Pressente então a morte e amargura

Estranho povo invade o grande Tape

Olho aberto do tapir curioso esperto

Vê no grande barco bem mais perto

Pontudas lanças na direção da lua

Será que trazem coração amigo?

Se for a injúria, a fome, a praga e o perigo,

Irão sentir a força do charrua

As águas claras que corriam calmas

Encrespam, perturbando as almas

Ruge a tempestade inclemente

Será de tribo de raça insensata?

Se for Tapuia que destrói a mata

Enfrentaremos frios no tempo quente

Prevê o pagé Caty emocionado

Que o campo criará um novo gado

Irão plantar arroz, feijão e pão de trigo

Porém também trarão vergonha

Tabaco e coca e a maconha

Reflete dentro do olho do inimigo

E diz que vem o pai que espanca

Orgulho vão da raça branca

Correndo atrás do vil metal

Nem guarani, nem caingangue

Não mais terão o puro sangue

E o mel terá sabor de sal

Ontem, corria a lebre, o avestruz

Amanhã, fartum de negros urubus

Prevê também trabalho escravo

O bugre bom se extinguirá

Disse o pagé que assim será

Não sobrará mais nenhum bravo

Adeus, Tape de paz, tranquilidades

Teus campos virarão cidades

Nas serras, matas, verdes vales

As chuvas cairão aos prantos

Pois perderás teus últimos recantos

Não mais terás terra sem males.

Aquinosul
Enviado por Aquinosul em 10/05/2014
Código do texto: T4801078
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.