Invasão do Tape
No azul do céu a garça branca voa
Quanta liberdade das aves na Lagoa!
Gritam bugios na direção oposta
No sul venta o minuano desnorteado
Vê-se estranho movimento do outro lado
Um monstro se aproxima aqui da costa
Desliza n’água aquele bicho enorme
Antes que a natureza se transforme
Tapiretan segura forte o seu tacape
Na grande figueira ganha altura
Pressente então a morte e amargura
Estranho povo invade o grande Tape
Olho aberto do tapir curioso esperto
Vê no grande barco bem mais perto
Pontudas lanças na direção da lua
Será que trazem coração amigo?
Se for a injúria, a fome, a praga e o perigo,
Irão sentir a força do charrua
As águas claras que corriam calmas
Encrespam, perturbando as almas
Ruge a tempestade inclemente
Será de tribo de raça insensata?
Se for Tapuia que destrói a mata
Enfrentaremos frios no tempo quente
Prevê o pagé Caty emocionado
Que o campo criará um novo gado
Irão plantar arroz, feijão e pão de trigo
Porém também trarão vergonha
Tabaco e coca e a maconha
Reflete dentro do olho do inimigo
E diz que vem o pai que espanca
Orgulho vão da raça branca
Correndo atrás do vil metal
Nem guarani, nem caingangue
Não mais terão o puro sangue
E o mel terá sabor de sal
Ontem, corria a lebre, o avestruz
Amanhã, fartum de negros urubus
Prevê também trabalho escravo
O bugre bom se extinguirá
Disse o pagé que assim será
Não sobrará mais nenhum bravo
Adeus, Tape de paz, tranquilidades
Teus campos virarão cidades
Nas serras, matas, verdes vales
As chuvas cairão aos prantos
Pois perderás teus últimos recantos
Não mais terás terra sem males.