Rabo de tatú.

Vindo de onde venho,

Na peleia me garanto.

Medo é coisa que não tenho.

A chinoca soluçava em prantos.

Pendurei o meu chapéu

O peão parecia um réu,

Pressentiu minha embretada.

Já estava na minha mira

E a camisa esbranquiçada,

Tecida de caxemira

De sangue ia ser manchada.

Pra não fazer muito escarcéu

Olhei pra cara do réu

E disse num verso só

De malandro não tenho dó,

Se te levo pros cafundós

Nunca mais verás o sol.

Não que eu tenha grande valentia,

Mas nem olhe pra esta guria.

Se quiser ter outra chance,

Antes que eu te desmanche

Dá no pé desaparece.

Só deixe pra traz a poeira

Vá pulando a porteira,

Pois pra metidos como tu

Que não me cai em simpatia

Que fica azarando as gurias

Dou de rabo de tatú.

Sou de coração grande

Mas avesso a desaforo.

Já distante, vi que me ofendia,

Juntei na rédea o meu moro

Que só de me olhar arrepia

Seguido por dois cachorros,

Quanto mais ele corria

Mas corria meu matungo.

Soltei de vez os caninos

Só escutei o estouro

Quando no rio molhou o couro.

Os meus cães não recuaram.

Nadando também se foram.

Deixei o pingo beber água

Se refrescar um pouco.

Só fiquei esperando

Cada cão trazer um osso,

Desse índio tosco

Que entrou onde não devia.

Voltei num trote pra onde estava

Com a certeza da coisa certa.

Pra esta gente que se acha esperta

Isso serve de alerta

Não tente puxar a coberta

De gaudérios como eu.

Vou encurtar, pois não minto.

Vivi feliz com a guria

Que aquele loco queria

Pra ser sua companhia.

Os cachorros já se foram

O moro também partiu

Mas quando dou uns assobios

Escuto latidos e um relinchar de cavalo,

A lembrança da chinoca,

Da memória não sai

Ela esta junto do Pai,

Mantendo as porteiras abertas

Pois lá chegarei... Na certa.

E digo, com toda a franqueza,

Sem isso tudo que eu tinha

Às vezes sinto até pena

Do peão que estraçalhei.

Não sei quando partirei

Mas pressinto que esta perto.

Não quero levar tristezas.

Vou perdoar o xirú

Pendurar o rabo de tatú,

E os ossos que guardei,

Num gesto de nobreza

Vou enterrar na natureza

E até uma oração farei.

Moacir Luís Araldi
Enviado por Moacir Luís Araldi em 19/04/2013
Código do texto: T4249091
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