BEM DOMADO
Esse potro que era altivo e redomão
Tá amansado e já não regateia mais.
Puxo as duas rédeas do meu coração,
E eu só quero ver se ele não vem pra trás.
Ainda dói cada relhaço que ele leva,
Pela boca espuma, mas toma tenência,
Solta pelas ventas, como bom maleva,
Toda a raiva que se esconde na obediência.
Só que, como brasa que se encolhe agora
Nos restos mortais desse fogo de chão,
Se esquentou de noite, quando chega a aurora
Esse orgulho morre embaixo do borrão.
Todo dia encilho o pingo bem domado,
Pego o laço, monto e vou pra campereada,
Que na dura lida, repontando o gado,
Ele até se esquece de sua dor danada.
Hoje ele obedece, sem dificuldade,
Meto-lhe as esporas só pra me entreter.
Mando em meu destino e afogo na saudade
As vontades loucas desse bem-querer.
15/11/2012