O SER SERTÃO
Sou rei, em eu ser sertão,
O sou com muito orgulho
Lá da terra que a política esqueceu,
Da ingenuidade que o bicho comeu,
Do gavião, carcará e outras rapinas,
Dos meninos e das meninas,
Que há muito se perdeu.
Sou Sertão sou sertanejo,
Sou brejeiro no gracejo,
Lamparina, candeeiro ou lampião.
Se me afagam, alumio,
Se me agridem, sou Silvino ou Lampião.
Transformo a cana em melaço,
Posso ser rei do cangaço,
Corto tudo no facão.
Sou amigo, mas posso ser a fera,
Que ama e também considera,
Quem é rei nas abas do meu Sertão.
Prá ser rei é preciso ter coragem
Todo o resto é bobagem
Desdém, cara feia ou bicão,
Lá não tem isso não,
Quem é cobra, macho é,
Dança o xaxado enquanto aprende o baião,
Pega o boi na caatinga
E leva-o à invernada,
Mata a cobra com a enxada,
Mas não trás para os pés não.
Só ama se for amado, cuidado!
Não come o pão amassado,
O homem e rei, em eu ser Sertão.
Rio, 25/01/2010
Feitosa dos Santos