Rios

Rios da terra,

Águas ricas de peixes,

De lixo e de descasos.

Testemunha cabal...

Do homem na margem do lixo,

Do homem na margem do luxo.

Uma cantiga para o rio,

Um rio que chora baixinho,

Um rio que abre seus braços

Aos meninos preguiçosos

Que mudam seu curso.

Rio, minhas lágrimas de lamento

Enchem tuas tardes.

Cala fundo no peito tua beleza, tua saudade

Que teimam em resistir à agressão do homem.

Areia, água, vida,

Meus pés cobertos por tua história

Se encaminham para a nascente,

Água turva, Mente turva.

Claras ideias na beira do rio.

Movimentas nossos destinos,

Margens, ribeiras, ribanceiras,

Vejo um quadro renovado, fascinante,

Àguas cristalinas e transparentes

Dos rios caudalosos que existem ainda.

Rio que se move na palma da gente,

Seguindo um ritmo irregular,

Na força de sonhar, cavar canais,

Resistindo e respondendo com vida e

Incansavelmente belo.

Quem passa em tuas pontes

Passa apressado,

Parecem estar de olhos fechados e

Nem te cumprimenta.

Assim são os homens

Impregnados pelo consumismo.

Mais que depressa os meninos de rua

Saltam, navegam, brincam...

Enganam a fome.

Limpam as suas almas nas tuas margens

E tu silencias, vendo-os pescar esperança.

O Rio fica aperreado,

Já não é mais o mesmo,

Muda o seu estado diante das incertezas.

Rio das Velhas, Rio dos Currais, Rio São Francisco,

Rio Capiparibe, Beberibe, Rio Uruguaia,

Rios que em meu ser desaguam.

Água de beber, Àgua de lavar, Água...

Que carrega as tristezas para o mar.

Rio que chora e caminha

Jogando-se na correnteza.

Chora rio, Chora toda tua mágoa,

Chora alto e acorda consciências.