Notívagos
Cafubira,
Com suas botinas maiores que os pés,
Toco de cigarro atrás da orelha,
Bigode alaranjado,
Cor de urucum,
Facão na algibeira,
De onde vens,
Calça pula-brejo,
Amarrada com embira?
Cafubira, Cafubira!;
Cortando estradas, caminhos e trilhas,
Amassando capoeira,
Abraçando árvores,
Para onde vais,
Saltando mata-burros;
De gente,
Desvencilha?
Cafubira,
Ô simplório e não visto Cafubira,
Riachos de águas doces,
Noite de Lua cheia,
Após o banho de cachoeira,
De homem formoso,
Transformas em alquebrado Curupira.
Cafubira,
Que juntamente com Macunaíma,
Jeca Tatu, Saci Pererê, Diadorim, Mula sem cabeça, Riobaldo,
Insolentes figuras da Literatura Brasileira,
E tantas outras,
Representantes de um povo que enveredou pelo universo do tique,
Em branco está o cheque,
Verde amarelo,
O calote,
Branco são as nuvens,
PIX em céu azul anil,
Em dinheiro,
Somente em dinheiro,
Cores do novo Brasil.
Com toque de inteligência artificial, nanotecnologia,
Anitas e Aléxias dislexas,
Contam os segundos,
Relógios tic-tac;
Originalidade, sinceridade, honestidade e autenticidade,
Nesse povo novo,
Não lhe cabe,
Um sequer,
Não resta mais,
E nem é de conhecimento popular,
Recital musical de violas,
Notas e acordes em elegia.
É Cafubira,
Se queres sobreviver em terras dadas ao consumo,
Tens que deixar de ser,
Decrépito e anacrônico,
Caipira,
Matuto,
Sertanejo,
Em meio à um povo que se diz supra-sumo.
Cafubira, Cafubira,
Se viestes montado sobre eles,
À galope ou que nem gato,
Não durma com olhos alheios,
Se vire,
Dá no pé,
E volte para o mato!
Cafubira,
No asfalto quente em que estás não plantam café,
Nas esquinas não existem ventos na cara,
Nos jardins das casas, casebres e casarões não nascem rosas,
Lema de cidades grandes é:
"Sobrevive melhor quem pratica atletismo,"
Ratifica que correndo,
Deves voltar para o mato,
Afiados machados destruíram aroeiras, embaúbas, seculares jacarandás, genipapos,
Só não, cantoneiras de maciça sucupira.
Notastes, nada onde fostes parar,
Está para versos e poesias,
Abraços generosos,
Apertos de mãos,
Ombros e afagos,
Efusivos e demorados papeados em prosa.
Cafubira, Cafubira!!
Andarilho pelas noites com ou sem Lua,
Sejas forte;
Pois nas estradas modernas,
Caminha cada um por si,
E a sombra que o acompanhe,
Iluminada pela bruxuleante lamparina,
Chamada sorte.
Vividos:
Entra dia,
Sai noite;
Entra mês,
Sai ano,
E as chamas de te querer,
Não adormecem;
Ao contrário,
Mantém-se acesas,
Despertas em sonhos vívidos.