Também sou cidadão

Chuva

Na rua

E minha carne nua

E crua

Na cama.

E a lama

Escorre

Na calçada.

De sandália

Calçada

Nos pés

Tomo o ônibus;

Não tenho tênis

E nem posso ir de táxi,

Molho os pés.

Deixo a barba crescer

O feijão de molho

Pra amolecer

De tempero, só repolho

Pra comer.

Acabou o gás,

Mas lá fora tem tanto gás

Nas ruas saindo dos carros

Dos navios no cais,

O efeito estufa,

Só estufa mais.

Vão cortar a energia

Por causa da taxa de iluminação

Mas lá na minha rua

Os policiais não vão

Medo do escuro

Ou medo do ladrão?

Eu vou pra fila

Do bolsa família

Fico doente de esperar

Saio direto pra farmácia

É o que dá pra comprar.

Dou duro,

Me esforço,

Tento trabalhar,

Mas o moço da esquina

Pirateia sem parar

O que faço?

Esqueço esse negócio de poetar?

Eu nem tenho nome...

Porque o poeta no Brasil

Morre de fome?

Wellington Lima, Na Estrada, 2010.

(Maranhão – Brasil, 20.10.10)

Wellington Varjão Poeta
Enviado por Wellington Varjão Poeta em 18/05/2012
Código do texto: T3674771
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