Também sou cidadão
Chuva
Na rua
E minha carne nua
E crua
Na cama.
E a lama
Escorre
Na calçada.
De sandália
Calçada
Nos pés
Tomo o ônibus;
Não tenho tênis
E nem posso ir de táxi,
Molho os pés.
Deixo a barba crescer
O feijão de molho
Pra amolecer
De tempero, só repolho
Pra comer.
Acabou o gás,
Mas lá fora tem tanto gás
Nas ruas saindo dos carros
Dos navios no cais,
O efeito estufa,
Só estufa mais.
Vão cortar a energia
Por causa da taxa de iluminação
Mas lá na minha rua
Os policiais não vão
Medo do escuro
Ou medo do ladrão?
Eu vou pra fila
Do bolsa família
Fico doente de esperar
Saio direto pra farmácia
É o que dá pra comprar.
Dou duro,
Me esforço,
Tento trabalhar,
Mas o moço da esquina
Pirateia sem parar
O que faço?
Esqueço esse negócio de poetar?
Eu nem tenho nome...
Porque o poeta no Brasil
Morre de fome?
Wellington Lima, Na Estrada, 2010.
(Maranhão – Brasil, 20.10.10)