PARA UMA MORAL - textos preferidos***

Primeiro panfleto

Não é que as coisas sejam fáceis. Mas também não é ser fácil que é essencial. O girassol gira com a luz, e isto não é fácil e é belo. É tempo de compreender que massala e malapa crescem em árvore forte, na terra firme e não no lodo. Continuar ou não continuar a estudar não é problema teu nem meu – é nosso.

Um hospital para o povo, uma escola para o povo, não é verdade, não é possível na nossa terra sem cavar o chão da Revolução. Querer arroz sem semear não é história de homem. O segundo passo sempre vem depois do primeiro.

Vivemos hoje. Não ontem nem amanhã. E a missão de todos nós é realizar o programa da FRELIMO. Independência nacional e completa. Fim da exploração do Homem pelo Homem.

A missão de hoje, camarada, é cavar o solo básico da Revolução, é fazer crescer um povo forte, com uma P. M., uma bazuca, uma 12.7 em Muidumbe, em Catur e mais ao sul ainda, em Nampula, em Macequece, em Inhambane. E um povo forte, Camarada, remove montanhas, cria hospitais, cria escolas, como anunciaram os primeiros ramos em Cabo Delgado e Niassa.

Somos Soldados da FRELIMO, cumprimos a nossa missão, cavamos o solo básico da Revolução.

Segundo panfleto

O importante não é o que EU quero, o que TU queres, mas o que NÓS queremos.

A revolução é assim: tem as suas leis e um segredo também. As leis da Revolução são as leis dos homens reunidos.

Cada um de nós tem um desejo forte de sonho e de vontade: ser doutor, aviador ou mecânico, carpinteiro, engenheiro e mesmo político, e servir amanhã o povo com o melhor do seu gosto e saber.

E hoje, Camaradas, como servir hoje o povo? Cada um de nós tem um gosto pessoal. Mas o que é importante não é o que eu quero, o que tu queres, mas o que nós queremos.

As rolas batem as asas e voam, o chirico canta, é verdade, mas o espaço e o ar são livres, Camaradas. No Moçambique colonial o hospital não é para o povo, a escola não é para o povo, o espaço e o ar estão fechados.

Hoje, é preciso cultivar a machamba da Revolução nos carreiros duros de suor, de fadiga, de sangue. Com momentos de desânimo, de desespero, mas recriando o entusiasmo. Muitas vezes seguindo curvas dispersas, mas sempre reencontrando o caminho.

Hoje, é preciso cultivar a machamba da Revolução nos carreiros do mato, gastando as mãos e os olhos em esforços longos e vastos. Tropeçando, caindo e de novo erguendo-se, aprendendo e formando-se na experiência humana de dores e de vitórias e colhendo os primeiros frutos. Ainda mirrados, mas já frutos camaradas.

A Revolução tem as suas leis: são as leis dos homens reunidos. O que é importante é o que queremos todos nós hoje: cumprir a nossa missão, cultivar o solo básico da Revolução.

Terceiro panfleto

O esforço que fazemos não é leve nem pesado – é o que é necessário. A marcha é contínua, três horas, seis horas e meia até chegar ao lugar, com pausa, sem pausa. Um cantil de água para seis ou dez camaradas ou um rio inteiro para lavar 15 dias, um mês de suor a correr e a secar sem cessar, no corpo e no uniforme.

O esforço que fazemos não é leve nem pesado – é o que é necessário. Somos Soldados da FRELIMO, cumprimos a missão do Partido: grupos de homens e mulheres carregando armas, munições, medicamentos, roupas, reabastecendo os guerrilheiros. Grupos de homens e mulheres fazendo as machambas de arroz, milho e amendoim, construindo a vida nova nas zonas controladas.

O esforço que fazemos não é leve nem pesado – é o que é necessário. Somos soldados da FRELIMO cumprimos a missão do Partido: clandestinos, espalhando as palavras de ordem no mato e nas cidades, quebrando a segurança da PIDE. Levando as notícias das vitórias da FRELIMO às zonas ainda dominadas pelo inimigo colonialista, preparando a hora da explosão guerrilheira.

O esforço que fazemos não é leve nem pesado – é o que é necessário. Somos Soldados da FRELIMO, cumprimos a missão do Partido aprendendo a ler e escrever: um camarada ensinando outros camaradas, um professor e cem alunos debaixo de uma árvore redescobrindo as cores do mundo ou aprendendo a mecânica, a medicina e a química num país distante e amigo.

O esforço que fazemos não é leve nem pesado – é o que é necessário. Somos Soldados da FRELIMO, cumprimos a missão do Partido: uma emboscada, um ataque a um posto com P.M., com morteiros, os camiões saltando sobre as minas, os soldados inimigos perdidos caindo, morrendo, uma aldeia de proteção destruída, o povo liberto! Os camaradas reunidos ritmando a marcha da vitória, a Independência Nacional, o fim da exploração do Homem pelo Homem.

O esforço que fazemos não é leve nem pesado – é o que é necessário. Somos Soldados da FRELIMO, cumprimos a missão do Partido.

Quarto e último panfleto

Enfim, o tempo da Revolução é o tempo da certeza, da realização das esperanças. E para nós é hoje. Ninguém é responsável por ter nascido quando nasceu e não antes nem depois. Crescemos, é bem verdade, uns antes, outros depois, pisando lugares diferentes. Tivemos cada um a nossa história, mas agora a Revolução domina os nossos sentidos, somos milhões de vozes e mãos unidas.

O que é importante não é o que tu queres, o que eu quero, mas o que nós queremos.

O caminho é assim, cavado na montanha, a descer e a subir. Cavado na planície, no capim e no mato espesso e mesmo no milho mais alto do que nós.

O esforço que fazemos não é leve nem pesado - é o que é necessário. Guerrilheiro cultivando a terra, transportando munições ou medicamentos. Construindo um hospital, uma escola ou a estudar num país distante. O meu lugar é lá onde a FRELIMO determina. A linha de combate é lá onde a Revolução me leva.

Somos Soldados da FRELIMO: cumprir a missão do Partido, cavar o solo básico da Revolução. Pôr fim à exploração do Homem pelo Homem, construir a Independência Nacional, completa.

O esforço que fazemos não é leve nem pesado – é o que é necessário...

É o que é necessário...

É o que é necessário...

É o que é necessário...

O que é importante não é o que tu queres, o que eu quero, mas o que nós queremos...

O que nós queremos...

O que nós queremos...

O que nós queremos...

***Marcelino dos Santos, em O CANTO ARMADO, Antologia Temática de Poesia Africana, Mário de Andrade - organizador. Sá da Costa Editora, Lisboa, 1979, páginas 98 a 108. Acervo e formatação para esta página por: Oubi Inaê Kibuko = @oubifotografia.

Se apreciou e se identificou, declame em saraus, espaços culturais, educacionais e demais locais públicos. Tire cópias e passe adiante. Você recebeu um bastão para acolher suas carências e urgências e ser repassado com acréscimos. “O analfabeto não escreve, nem lê, mas pensa.” Cícero Buark, em FALANDO SOZINHO. Ajude a acender consciências onde a escuridão impera. Afeto. Respeito. Retrocesso. Revolução: começa em casa.

Enviado por OUBÍ INAÊ KIBUKO em 15/07/2005.

Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/poesias-patrioticas/34439