Orvalhada
Se formam na madrugada.
Gotas e mais gotas, avolumam-se com a aurora.
E ao sentirem os primeiros raios de sol,
Desfazem-se, deslizam nas folhagens,
Formando um profundo lago de águas cálidas,
Movediças, efervescentes, eruptivas, inebriadas.
Púbere oásis furta-cor;
Libélula orvalhada assediosa,
Abrindo-se, amadurecendo, vagando,
Batendo asas à procura de amor.
É dia.
Retraída; escondida: joia em porta-joia.
Acabrunhados; furtados.
Altas temperaturas em lábios ressequidos.
Vida, taras e efemeridades que seguem em tardes longas.
Em breve, outra madrugada sonhada.
E a (in)completude virá.
Nova aurora orvalhada,
Provavelmente eu não morra como morre meus semelhantes, mas se por ventura eu morrer, ficarei universalizado em meus versos, obras máximas paridas em uma noite aterradora sob berros roucos de trovões e céu riscado por relâmpagos em parto normal e solitário.