O Mirante
O que de fato sou,
Quer saber?
Não me interessa.
Sou algo vago,
Caibo numa gaveta.
Fico ali, mudo e nu.
Adoro ouvir as folhas;
Ao vento.
Sinto o silêncio entrar
No meu corpo.
Caibo dentro dum copo,
Meio cheio ou vazio,
Não importa. Caibo.
Carambolas?
Já não posso mais.
Indigestão dos Tempos,
Que há de vir.
No final me derreto,
Junto ao sorvete,
A entorpecer com seu doce,
Meu sangue de vinho branco,
Que ao se derramar,
Não tinge mais o mar,
Mas isso não importa.
Me basta um olhar míope,
Dum mirante qualquer.