Poema – Auvers
Poema – Auvers
‘’Existem nos suicidas
Uma esperança
Que remetem aos sonhos de Van Gogh ‘’
Sinto-me um órfão
Que perdeu os seus pais
Para uma praga incessante
Sinto-me um moribundo
Cujas as vestes
Fedem a fezes e enxofre
Sinto-me a solidão arranhando as janelas do meu quarto
Implorando para que no abrigo das minhas angustias
Ela possa procriar as suas tentações
Estou hoje como um padre
Que encontrou o Diabo
E descobriu nas suas Poesias
Verdades jamais ditas em qualquer Livro sagrado
Estou hoje livre nas labaredas do meu próprio inferno
Moldado com estas mãos sujas que um dia
Masturbaram a mãe de cristo
Falhei como filho
Por nunca ter tirado um único sorriso dos meus pais
Falhei como Poeta
Por nunca ter escrito uma única Poesia de amor
O que eu sou?
Senão a desilusão de um homem morto
O que eu deveria ser?
Senão tudo aquilo que falhei em vida
Suicida? Neste momento sou como um pássaro
Cuja as asas foram arrancadas brutalmente pelos Deuses
E o destino de se arrastar na miséria banhando-se
No próprio sangue é a única paixão que lhe resta
Embora a vida tenha me concebido
Momentos de felicidade
A minha mente escrava da depressão e da ansiedade
Ajoelha-se todas as noites
Com o pesar de ter nascido
Não há em mim nenhuma esperança
De que algum dia serei feliz
Ou que a paz habitará em meu coração
Me acostumei com as partidas
Com as decepções
E os terríveis abandonos
As crises de pânico que me fazem surtar
As drogas que me empurram desta realidade
Os traumas e medos que eu sei que nunca vou superar
São os pregos nas minhas mãos
Os martírios que carregarei em vida
Amei tal como Caim amou Abel
E chorei com as mãos sujas de sangue
Quando este amor matou a mim mesmo
Lavei as minhas mãos sujas de sangue
Nas cachoeiras das minhas lágrimas
Com estas mesmas mãos
Escrevi Poesias
Que jamais deveriam ser lidas...
- Gerson De Rodrigues