ILUSÃO TOMBADA

Com o propósito de viver

Me deixei conduzir através da vida

(Obra do inevitável)

De mãos dadas, guiava-me orgulhosa

Com andar lento e compassado,

A senhora da ilusão tombada.

Nossa marcha na poeira acordava ressonâncias...

Seguiamos, a rir das almas fanadas

Que como morcêgos marrons, passavam e repassavam

Debatendo-se à toa em fumaça.

E a própria luz do sol repugnava ao ver de perto

Tão vil e mentirosas figuras.

Praguejando insultos às almas impuras,

Riamos do egrégio esplendor das formas super finas.

Escarneciamos do luar que há nas faces dos lírios,

Não nos interessava a pureza: Ela, em nuanças divinas

Conduz sempre, em segrêdo, as farpas dos martírios...

E em verdade, o que é santo, e belo neste mundo,

É possuir pelo amor um ódio imenso, fundo,

E ter na alma a crueza das panteras...

E ante a minha insensibilidade mutilada, amiga

Tu sorris, com laivos de piedade?

Olha, toda incredulidade, a rede fantasmal

Que minha angústia tece?

Tu não sabes, que essa emotividade

É o odor fétido de um sonho em decomposição?

Talvez, quando terminar essa jornada estranha,

Eu seja cuspido com desprezo, em plena entranha

Do corpo dividido, de quem só tem possuído

Pedra no peito em vez de coração.

Tácito

Paulo Tácito
Enviado por Paulo Tácito em 23/07/2020
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