Como cantar a melodia amena, bonita
Se o que tenho é dormência de tudo?
Se as trevas do riso encheram meu mundo
Numa sangria da poesia que irrita?
Versos torpes, carentes de encanto...
Olhos que só prescrutam o mal da vida
Mãos que afagam a lágrima e o pranto
De uma solidão imensa e renhida!
Quão quanto o pássaro calou o canto
E a flor não desabrochou no jardim
Calo a alegria e grito meu pranto.
Deixo pois o poema triste e sombrio
Visto serem as palavras meu único alento
Neste calabouço obscuro e frio.
Anna Corvo
(Heterônimo de Elisa Salles)