Porque julgam, pois a pobre Anna?
Moça culta e doce. Cristã. Tão bela...
Sua alma não é má ou profana
Nem às odes das trevas se curva ela.
Ela é a ternura das rendas mais finas
Ama os ventos da orla. Deseja o mar
Deus é a fé, para a qual se inclina...
E aos anjos suplica benção ao luar.
Mas ela nunca foi abençoada com amor
Bondade alguma lhe tocou o alvo rosto
Foi o objeto do carrasco . O seu rancor.
Por tais fatos, Anna é tristeza e desgosto
Não julguem seus versos nus, malditos
Por cantar sob as asas do Corvo atroz
São sim. Versos medonhos e proscritos
Mas é neles que ainda sussurra a voz.
Não anseiem esperança para a coitada.
Nem mesmo ela mais crer no raiar do sol
Espera com ardor a mais densa madrugada
Quando será a ausência de luz no farol.
Neste dia então tudo será memorial...
Nem medo. Nem choro. Nem tormento.
Anna será livre das odes de todo mal
Nem seu nome ouvir-se-á no vento...
Por ora, suportem sua letra em sangria
Nem a contemplem. Tudo lhe é vã ilusão!
Tudo que Anna tem ainda é a sua poesia...
Não a sentenciem em sua dor e maldição.
Anna Corvo
(Heterônimo de Elisa Salles)
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