Quem ousa perturbar meu sono, meu anestesiar benevolente?
Se não for para dar-me uma vida diferente e bem querida?
Deixe-me, aqui na minha vil tumba, prefiro o esquecimento
Do que habitar novamente entre os mortos que fingem vida!
Aqui há sombras. Imensas e penetrantes...Roubam-me a visão!
Mas o que era a luz que antes eu via? Impudica e inebriante...
Nelas o que eu via, não era o que eu via. Eram espúrio e frieza!
Então deixe-me em paz!__ Aqui a morte é verdade. E verdade é beleza!
No falecimento do corpo, onde a alma vigia e persiste
Há uma graça rara, pura, sem subterfúgios ou máscaras!
Quando pensa-se haver, por fim o cessar dos versos, ei-la, magnífica a poesia!
...Então foge de diante da minha face, óh peregrino dos dois mundos!____ Esqueça-te que viu e ouviu a bela que cria habitar
para sempre entre os mortos. Aqui sou cinzas, sou espectro, mas
sou tão feliz quanto jamais fora enquanto vivia...
Anna Corvo
(Heterônimo de Elisa Salles)