Foi há muito tempo já
Quando eu era inocência
E sonhava os sonhos leves de criança
E dançava à beira das fogueiras
Bruxa branca, linda e faceira
que cria na magia
do bem que acaricia,
embala e enaltece
os versos da poesia...
Mas foi á muito tempo...
A morte nem existia
As carnes nem sangravam
Os corvos nem piavam
seus grunhidos, malditos e maldizentes
na minha janela, em agonia...
...E as ondas
quebravam nos corais
Nas noites, nos madrigais
Enquanto o vento entoava seus mantras
seus vendavais...
...E a morte ainda nem se insinuava
por entre as minhas ranhuras
Eu nem era amargura
Na cerne
Na alma dura
Em gritos de loucura
na madrugada insana de candura...
Mas o poema duro e frio
chegou nas lamas do rio
E já não há inocência
nem rima
nem coerência
Apenas o arrepio
da gralha em morto pio
que já não se cala mais...
Nunca mais.
Agora a morte existe...
Findaram-se os dias de sol
Nos giros dos gira-sóis
Das ondas azuis á beira mar
Dos tempos de saber amar
E de se deixar amar...
Tudo que se ouve agora
é o murmurar do afugentar da aurora
Trevas longas
Longos burburinhos
Ocos e vazios...
E o corvo encantado
gritando amaldiçoado,
seu terrível penar...
Pena ele
Peno eu
Noite imensa
Intensa como breu
E a paz que eu tinha antes
há muito tempo atrás
não tornarei a te-la.
Jamais.
Anna Corvo
(Heterônimo de Elisa Salles)
Quando eu era inocência
E sonhava os sonhos leves de criança
E dançava à beira das fogueiras
Bruxa branca, linda e faceira
que cria na magia
do bem que acaricia,
embala e enaltece
os versos da poesia...
Mas foi á muito tempo...
A morte nem existia
As carnes nem sangravam
Os corvos nem piavam
seus grunhidos, malditos e maldizentes
na minha janela, em agonia...
...E as ondas
quebravam nos corais
Nas noites, nos madrigais
Enquanto o vento entoava seus mantras
seus vendavais...
...E a morte ainda nem se insinuava
por entre as minhas ranhuras
Eu nem era amargura
Na cerne
Na alma dura
Em gritos de loucura
na madrugada insana de candura...
Mas o poema duro e frio
chegou nas lamas do rio
E já não há inocência
nem rima
nem coerência
Apenas o arrepio
da gralha em morto pio
que já não se cala mais...
Nunca mais.
Agora a morte existe...
Findaram-se os dias de sol
Nos giros dos gira-sóis
Das ondas azuis á beira mar
Dos tempos de saber amar
E de se deixar amar...
Tudo que se ouve agora
é o murmurar do afugentar da aurora
Trevas longas
Longos burburinhos
Ocos e vazios...
E o corvo encantado
gritando amaldiçoado,
seu terrível penar...
Pena ele
Peno eu
Noite imensa
Intensa como breu
E a paz que eu tinha antes
há muito tempo atrás
não tornarei a te-la.
Jamais.
Anna Corvo
(Heterônimo de Elisa Salles)