Um dia, quando o sol beijava as águas do Atlântico
As brisas estavam suaves e gaivotas bailavam no céu
Eis que surge, um cavaleiro vestido do negror dos dias
Suas vestes vinham salpicadas de sangue e poeira...

Ele nada dizia; mas em seus olhos pairavam sombras
Ela nada inquiriu. Deu-lhe casa, comida e à si mesma
Banhou-lhe com águas perfumadas e beijou-lhe a boca
Doou-lhe um amor tão terno que nem mesmo sabia ter...

Ele a amou com o corpo viril, marcado de cicatrizes
Ela recebeu seu acalanto e sua semente, silenciosamente
Entre eles as palavras eram desnecessárias e fúteis...
Bastavam-lhes o hálito morno um do outro. Nada mais.

Por algum tempo a dor cedeu... Ganhou ares de sorrisos
Brancos e transparentes... Promessas de dias luzidios...
Ela chegou à plantar margaridas nos umbrais das janelas
Pobre Anna, esqueceu-se de que a vida é dor e agonia.

... E numa madrugada de dezembro, ele partiu
Sem nada dizer, deu-lhe um último beijo, longo e quente.
Como se não quisesse ir... Como se a amasse, realmente.
Mas que mulher é capaz de aquietar o coração do valente?

Ela nada replicou. Não suplicou pelo amor que lhe foi dado.
Aceitou a vontade da sorte...Talvez amor também seja morte!
As margaridas dos umbrais se quebraram ante à sede...
Não houveram mais risos. A escuridão logo desceu sobre ela.

... Hoje Anna não contempla mais as águas do Atlântico.
Não sente mais as brisas, nem vê as gaivotas altas pelo céu.
Tudo são saudades de um tempo vadio. Juras quebradas.
Dele, só a lembrança das noites quando o corvo não vinha...
Mais...


Elisa Salles ( Elisa Flor)
Enviado por Elisa Salles ( Elisa Flor) em 04/12/2016
Código do texto: T5843341
Classificação de conteúdo: seguro