A morte não manda recado.
 
                Rua á baixo rua a cima em passo que determina um trajeto sempre igual, era um corre e corre danado neste dia anormal, naquela vizinhança estava faltando um que agora já se foi, se escafedeu, ou foi morar com Deus, para o outro lado da vida em lugar em incomum, já foi subindo ao céu isto que se sucedeu/.
 
                              Neste dia de tristeza as forças da natureza fez morrer mais um, Filomena desta vez  a primeira deste mês; a velhinha rendera que morava bem ali, a malvada negra morte não deu chance a pobrezinha, conferindo os habitantes, menos um na vila norte/.
 
                              Seu Augusto sapateiro, bom sujeito, bom amigo, entre as solas de sapatos, passam cola prega taxas fura o couro o costureiro, mas a tal velha da foice, com maldade sem piedade carregou pra junto dela/.
 
                              Ante ontem foi Chiquinho, amanheceu coitadinho todo mijado no chão, a morte quando chegou e nada lhe perguntou no minuto derradeiro, foi levado bruscamente nem esperou em nada  pegou o pobre vivente com as calças arriadas, nem se quer trocou de roupas,  partiu para outro mundo, antes de ir ao banheiro.
 
                              Seu Joaquim o  Português, agora chegou sua vez, sua hora está marcada, amanhã de madrugada vais fechar o armazém a caminho do além em passos que não tem volta, sua família com pesares neste dia  em respeito, estarão toda  enlutada/.
 
                              Ali naquele lugar dava medo de morar, tinha sempre n’outro dia um marcado a degolar,  todo dia um cortejo enchendo de sepultura, o cemitério do lugar, tanta criança órfã. Vária mulher a viuvar. Pela rua direita, está vindo à caminho, a figura destemida, com a foice afiada, pronta pra exterminar,  Você meu caro amigo coloque as barbas de molho sua hora vai chegar/.
 
                               A notícia correu rápido depois de horas da festa, um caso a preocupar, Jasão estava estendido com um balaço no umbigo, todo sexo feminino estava a lamentar, Jasão o moço bonito o garanhão deste lugar sem vida jogado ao chão, com um tiro bem certeiro pegou bem naquele lugar, ele gritava forte, meu Deus me livre da morte, não quero deixar este mundo, eu não quero morrer já, mas foi de morte morrida, não foi de epidemia, outra historia pra contar/.
 
                                Dona Hermínia coitadinha quando soube o ocorrido logo veio a desmaiar, sua esposa verdadeira a morte de seu marido nesta hora a lamentar como isto aconteceu, como foi que ele morreu, foi um cabra traído com uma arma empunho no gatilho a acionar,  assim que sucedeu meio uma fumaceira cheiro de pólvora no ar/.
 
                                 Logo o povo linguarudo de esquina em esquina estava a comentar, morreu o atrevido, um descanso merecido, pros inferno se danar, todo maridos traídos aliviados diziam agora a paz vai reinar, sentirá a coisa preta, no colo do capeta agora ele vai sentar/.
 
 
                                Hoje é feriado, respeitando o dia santo ninguém foi trabalhar, os coveiros e stão de folga, por favor, dona morte não me faça trabalhar, vou descansar as ferramentas, os meus braços  não aguenta, de tanto as covas cavar,  não quero que me atormentes, não mate mas esta  gente até nossa folga acabar, não quero enterrar ninguém até sexta que vem, dê sossego ao povo deixe de atazanar.

Antônio Herrero Portilho/17/8/2014
Postado há 17th August 2014 por Antonio Herrero

Antonio Portilho antherport
Enviado por Antonio Portilho antherport em 17/08/2014
Reeditado em 25/01/2022
Código do texto: T4926504
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