Engrenagem. A máquina.
Poema ritmo mecânico refilão.
Bate, rebate, para trás e para a frente
esfrego a testa limpo o suor
ao som do metal eu canto ao meu pranto
trabalho de noite, e gasto de dia
as contas são muitas, as bocas famintas
e as mãos entendidas, jamais recolhidas
e quanto mais dou, mais ela castiga
sou nobre vassalo, na rua sou rei
em casa vassalo, que a vida fustiga
e neste sistema de trabalha e ganha
de ganha e gasta ou ganha e perde
sou parte do ciclo, viciado maldito
sou dente de encaixe nesta engrenagem
que luta e labuta e o estado desfruta
um dia ainda mato um filho da ... bruta!
há dias que juro, e mal te pergunto
se mais há na vida que dor e trabalho
que é feito da vida que eu desenhei
poemas e prosas que tanto sonhei?
guitarra que tanto nas mãos me gemeu?
mas eu é que gemo, e aguento o barulho
senão é trabalho, é "ela", e eu ralo!
Pé de Carvão
(Heterónimo Registado)