Apoteose

 

Ébrio vago pela vida nas calçadas

Nas ruas perdidas e esquecidas

Com pensamentos escorregadios

A alisar a textura molecular dos sentidos

Ao debruçar-me na memória busco histórias

Dos arlequins nos trilhos do mundo

A navegar nas aventuras de chapéus a mão.

 

Em meio a tudo a alegoria conduz a multidão

Sentimentos carnavalescos correm nas veias,

A alegria veste o corpo de confetes.

O show da vida passa misturando culturas.

Um copo de cerveja sufoco as lembranças

E o aplauso acorda o samba, o frevo, as nações.

 

A alma emprenha-se da música e as baianas

Soltam o espirito afro-brasileira.

O toque da cuica enreda o dia

O que a noite fez na fantasia....

Em frente aos casarões antigos

Os sapatos rasgados são abandonados.

 

Passou a primavera, o outono despertou,

O inverno chegou.Veio o verão mais uma vez.

As ruas enchem-se a deixar pelo caminho a tristeza.

A desventurada apoteose desfaz as máscaras.

Lá fora volta e meia pierrots e colombinas

Braços dados, acordam a quarta-feira de cinza.

 

O glamour no fantástico da vida adormece 

Na cinza do tempo volto a textura molecular

Dos sentidos, acordando a triste realidade.

As cinzas da quarta-feira devolver a verdade.