40’s

“Malassombro” foi esperar pelos quarenta,

Qual pensava, em meio à pressa desatenta

Nunca chegar – um número apenas...

Quarenta de tantas coisas, mas um número,

Apenas um número acabou sendo.

Não senti tanto esta chegada,

Na verdade, mal percebi que tinha

Uma e outra cã em minha cabeça

Quando certas belezas já não eram tão belas

E outras lisuras perderam a graça.

As feiuras invisíveis de pessoas tão lindas

Passaram a ser tão perceptíveis nas meninas

Dos olhos as experiências agridoce.

E as belezas escondidas, por trás dos defeitos padrões,

Raiaram como um sol de verão...

Tudo pareceu, tão lento, fazer sentido

Aquela fé, do discurso inflamado, já não existe.

Nem me encanta, não mais convence ou emociona

Nem me dou mais o trabalho de conversar:

Ou é ou não é – já não importa.

E nem me verás implicar ou exortar,

Pois como diria o sábio Saramago:

"Aprendi a não tentar convencer ninguém.

O trabalho de convencer é uma falta de respeito,

é uma tentativa de colonização do outro".

E lembrar que já tentei converter tanta gente.

No entanto, gosto daqueles que se convertem,

Não às minhas ideias ou a alguma religião,

Mas, sem pentecostais berros ou psiquismos,

Converteram-se ao respeito de “deixar em paz”.

Não fiquei rabugento, mas gosto dos bons indiferentes

A estas diferenças empíricas e dogmáticas,

Deste que não estão “nem aí” pras minhas crenças,

Mas, assim como eu, querem o sacrossanto direito

De não ter que ouvir o que não interessa saber.

Dos amores trago as marcas do mel e do fel

A tranquilidade de não precisar e nem querer plateia

O descarrego dos tempos das autoafirmações

Da serenidade da ausência de opiniões,

Pois hoje eu já sei que sou tudo que eu preciso ser.

Não me perdoe se eu estiver sendo arrogante,

Antes seja assim que ignorante, pois se aprendi

A ser eu, posso me amar e amar, sem demagógicas pedagogias,

Deixando o outro ser quem é e aceitar a beleza

E conviver com a feiura natural de todo ser.

[2013]