O Motim - Parte VII

Nesta manhã, eu batizei-me de João

me escondo entre milhões, melhor assim

sou um dos tantos e o meu pranto é só mais um

e estando morto, ninguém mais pode me ferir

nesta manhã só a raiva me acalma

quem renasceu em mim só tem rancor

o horror, só ele é o que me move agora

é hora de sentirem a dor que dói em mim

jogado no camburão, navio negreiro

hospedeiro da morte do povo preto

conheço um novo meio de tortura

a dor me cura, cada vez mais, não esmoreço

já do avesso, até provoco, procuro a morte

talvez com sorte, golpe mais forte, a paz enfim

mas ai de mim, que o cabra é experiente

o corpo sente, mas dor não é o bastante

cada instante se faz mais longo e continua

minha carne crua, ora sem pele, já relaxou

a luz se esvai, o céu me cai, tudo á calma

minh'alma deita, o corpo aceita, sono profundo

Marcelo Simas Pereira
Enviado por Marcelo Simas Pereira em 03/03/2023
Código do texto: T7732071
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