O Motim - Parte VII
Nesta manhã, eu batizei-me de João
me escondo entre milhões, melhor assim
sou um dos tantos e o meu pranto é só mais um
e estando morto, ninguém mais pode me ferir
nesta manhã só a raiva me acalma
quem renasceu em mim só tem rancor
o horror, só ele é o que me move agora
é hora de sentirem a dor que dói em mim
jogado no camburão, navio negreiro
hospedeiro da morte do povo preto
conheço um novo meio de tortura
a dor me cura, cada vez mais, não esmoreço
já do avesso, até provoco, procuro a morte
talvez com sorte, golpe mais forte, a paz enfim
mas ai de mim, que o cabra é experiente
o corpo sente, mas dor não é o bastante
cada instante se faz mais longo e continua
minha carne crua, ora sem pele, já relaxou
a luz se esvai, o céu me cai, tudo á calma
minh'alma deita, o corpo aceita, sono profundo