UMA BREVE INDECÊNCIA

UMA BREVE INDECÊNCIA

 

Envolvidos por desinformação,

Até o bem pode flertar com o mal,

Seja nas fotos postas em ação,

Ou cada símbolo de pó e de sal.

 

Certa vez o matuto foi barrado,

Viajando a auscultar o exterior,

Ele levava a farinha no saco,

Da mandioca que foi seu labor.

 

Lá pensaram que seria cocaína,

E foi só agonia e furdunço,

Que levou o perito à ruína,

Pois era só amido o assunto.

 

Mas um dia ocorreu na Ibéria,

E foram trinta e nove os quilos,

Viajando em poltrona tão séria,

Do país que não tem esquilos.

 

Como pode a nave ir ao espaço,

Com uma carga que seja inútil,

Se lá fora não finjo ou disfarço,

Pois o desejo é que seja útil.

 

Nós já sofremos por um mandato,

Ou seria uma breve indecência,

Pela Amazônia queimando o mato,

E há quem desdenhou da ciência.

 

Eu não sou um coveiro de fato,

Mas eu devo respeito ao povo,

Como em astros ovais inexatos,

Não vislumbro ser plano o ovo.

 

Se entendo algo como errado,

Devo me portar como exemplo,

Se num dia eu dou meu relato,

Que não cumpro em outro evento.

 

Mas o tempo nos cobra o giro,

Que fazemos em torno de um sol,

Mesmo se da cartola eu tiro,

Cada coelho ou pombo e lençol.

 

Tudo pode ser real ou mágica,

Ou o povo ser livre de novo,

Se a fome é a dor mais trágica,

De quem não tem panela no fogo.