A solidão e agonia do encarcerado poeta amazônico

Perdida, na vastidão da mata da ignorância, a arte como trabalho é invisibilizada pela mentalidade provinciana que ofusca o que sai daqui.

Esquecidas, são as memórias do terror, da barbárie e da violência que há anos nos impede de sorrir.

Ser poeta em Manaus é doloroso. O encarceramento descomunal, o distanciamento do resto do mundo, a desgraça do abandono do processo histórico, o enfraquecimento do sentimento.

Para garantir o que é imposto há tantos anos, é naturalizado o estado amnético. Ordem é esquecimento. O caos é profético.

O sangue que escorre pelas ruas da cidade nem o Rio Negro consegue lavar. Como superar a agonia e tragédia, a última lágrima poética de Hanneman Bacellar?

A província não gosta de artistas dispostos a criticar. A província ama os que reproduzem a sua violência que se manifesta no silenciamento de tudo aquilo que soa como desordem. Explodem os versos tristes. Desgraçam os pedidos de socorro dos poetas que se afogam na enchente dos descasos. Dos poetas que encalham na seca dos rios dos amores escassos.

Seguimos, como dissidentes. Estrangeiros de nosso próprio lar. Somos os filhos da insurgência que aos prantos alimentam a revolta. A revolta contra os inconsequentes, contra os que querem nos calar. A revolta contra os miseráveis que querem nos ver longe para quem sabe assim nos valorizar.

Não há respeito pelo que é nosso, não valorizam a nossa luta. Quando gritamos somos condenados a beber cicuta. Dizem que não temos razão, nos soterram com abissal mesquinhez. No meio da imensidão, com o peso da solidão, definhamos com a sordidez.

Dos que juram preservar o que é nosso enquanto idolatram europeu. Dos que assassinam a sangue frio em nome de Deus. Dos que apropriam em prol da ordem capitalista. Dos que dizem proteger os indígenas enquanto vestem a camisa da bancada ruralista.

Mas, não nos calamos, seremos resistência. Não somos nós que devemos nos desgastar pedindo penitência. Nas portas deste inferno não existe nenhum lacre. Mas, como diria Márcio Souza a arte é um exercício de contra-massacre. Ficamos atentos para frear o genocídio. Para parar essa ordem e progresso fundamentada em anos de etnocídio.

Inspirado na introdução do livro "A expressão Amazonense - do colonialismo ao neocolonialismo" de Márcio Souza.