OS DONOS DA RUA
OS DONOS DA RUA
Eu tento andar pela cidade,
De um jeito que não vá morrer,
E, por isso, sou simplicidade,
Ao buscar os passeios rever.
Só não acho mais esse caminho,
Desde o dia que tudo invadem,
E tomaram as ruas e meu ninho,
Plantando espinhos que ardem.
Não há mais passeio público,
Pois todos já foram loteados,
Com as praças sem um púlpito,
Sem o jardim que nos foi tomado.
No meio da praça só há quiosque,
E o público se tornou o privado,
Ninguém mais conhece um bosque,
Desde quando somos mero coitado.
Bordas das rodovias não existem,
Porque as cidades lhes cercaram,
Criando padrões que não desistem,
Ao furtar o que nem compraram.
Os cadeirantes estão pelas ruas,
E os passeios não são mais colo,
Onde as motos são as armas nuas,
Que nos jogam os corpos no solo.
É preciso não ter tanto poste,
Como as ruas devem ser largas,
Senão estamos entregues à sorte,
Sob a fila da morte com vagas.
Precisamos de árvores e praças,
Nos encontros que a sombra traz,
Tendo brisa que nutre e não assa,
Com os frutos gostosos da paz.
Como apenso é preciso o asseio,
Tratando a água e os efluentes,
Guardando chuvas além do aceiro,
Trazendo mais cura aos doentes.