Rua da Ladeira
Na Rua da Ladeira
as plantas congelaram
as pessoas congelaram
as palavras congelaram
e quase nada mais se move
ao menos não para frente
os carros andam pra trás
o sol se move ao contrário
e mesmo o Tempo
esse positivista convicto
resolveu mudar o rumo
na Rua da Ladeira não se canta
o silêncio é o hino que se entoa
e as casas todas têm número
e as pessoas todas têm número
(o mesmo número)
e os sentimentos se pesam em ouro
que nada mais vale por lá
na rua da Ladeira tudo é solidão
mesmo quando tudo é multidão
e a prece é decorada pela criança
como uma árvore de natal sem luzes
apenas um eco perdido de fé vazia
e cada dia é uma noite eterna
o sol hiberna nos sonhos
de quem ainda recorda
das brincadeiras de corda nas ruas
da gurizada nua nos rios, sem tempo
para cuidar, sem medo
para viver
na rua da Ladeira o passado
é o único tempo que restou
nos sonhos de quem recorda