Rua da Ladeira

Na Rua da Ladeira

as plantas congelaram

as pessoas congelaram

as palavras congelaram

e quase nada mais se move

ao menos não para frente

os carros andam pra trás

o sol se move ao contrário

e mesmo o Tempo

esse positivista convicto

resolveu mudar o rumo

na Rua da Ladeira não se canta

o silêncio é o hino que se entoa

e as casas todas têm número

e as pessoas todas têm número

(o mesmo número)

e os sentimentos se pesam em ouro

que nada mais vale por lá

na rua da Ladeira tudo é solidão

mesmo quando tudo é multidão

e a prece é decorada pela criança

como uma árvore de natal sem luzes

apenas um eco perdido de fé vazia

e cada dia é uma noite eterna

o sol hiberna nos sonhos

de quem ainda recorda

das brincadeiras de corda nas ruas

da gurizada nua nos rios, sem tempo

para cuidar, sem medo

para viver

na rua da Ladeira o passado

é o único tempo que restou

nos sonhos de quem recorda

Marcelo Simas Pereira
Enviado por Marcelo Simas Pereira em 09/04/2022
Código do texto: T7491622
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