NAS NOITES DE REALIDADE

NAS NOITES DE REALIDADE

 

Eles cantavam nas noites,

Em meio ou fins de semana,

Enquanto os ricos passeiam,

Deixando pra eles, bananas.

 

Ter grana depõe o respeito,

Se é fácil ver Copacabana,

Mas algo não está bem feito,

Entre mansões e as cabanas.

 

Tudo é contraste no esgoto,

Que tem pobre sob a calçada,

E o rico é o sorriso maroto,

Que escarra o pobre na cara.

 

Vivemos o fim do humanismo,

Cunhando moedas e fardas,

Pois tudo se faz mecanismo,

Na alcunha de contos de fadas.

 

Nos fazem crer na bondade,

Com estórias de carochinha,

Mas crua é nossa realidade,

Que mascara a pura cozinha.

 

A fome vem com mesa farta,

E os ricos têm o que roubam,

Só o pobre quer tudo de graça,

Mas trigo e vinho não sobram.

 

Só assim as guitarras sibilam,

O rock de uísques tão caros,

E os corpos no chão denunciam,

As mortes e açoites nos bairros.

 

Vivemos de luxo e favelas,

Contrastes do que não tolero,

Nos retratos de antigas vielas,

Que separam o leigo do clero.

 

Por isso o artista é morto,

Desde que cantou o que sabe,

E foi logo expulso do porto,

Pois naquele iate não cabe.