Sou nordestino
Sou nordestino,
Mas moro aqui desde menino.
Cresci vendo meu pai,
De mãos calejadas, me sustentando na base enxada
Me deu quase tudo que eu queria
E, quando não pôde, eu entedia,
Pois bem sei como sofria esse valente sonhador.
Sim, ele sonhava,
Mas não era com um grande apartamento,
Nem com uma sela nova pro jumento,
Ele só queria me dá escola,
Que eu tivesse algum conhecimento,
Pra que eu não passasse pelo mesmo sofrimento
Que é a lida de quem a terra cultiva
Dando o suor,
O sangue
O tempo e a vida.
Porque a recompensa é a ferida magoada,
A roupa rasgada e ensopada,
Mas é do suor de um herói trabalhador.
E como tens coragem de vir colocar defeito?
Pois isso aqui tem que ser feito?
- Fazer da terra o pão brotar!
Ser nordestino não foi escolha foi destino,
Temos a mistura do sangue de tanta raça boa
E se estou em terra estranha não é atoa
Se estive ou estou aqui é pra melhorar
Dizem que temos sangue de índio preguiçoso,
De índio só temos o corajoso
Que pega a onça pelos bigodes,
Enquanto ela tenta o abocanhar
E na cidade grande não é muito diferente
Na selva de pedra ainda morre mais gente,
Pois quem mata não é a onça com fome
Ai quem mata é ganância do bicho homem.
E ainda tu vens criticando a gente?
Agora me responda existe povo mais valente?
E se disser que tem está mentindo...
É de ti mesmo, cabra besta, estará rindo.
Somos brancos, negros, índios ou caboclos.
Sim somos de tudo um pouco
Vida na cidade é vida de louco
Fazemos de tudo pôr tão pouco
E vem tu e chama de“Cabeça chata”,
“baiano”, “Zé Mané”,
“João-ninguém” e “paraíba”?
Sei que a gente nada tem...
E me joga na cara
Que “Sampa é terra de gente ativa”
Que “Sampa é igual locomotiva”,
Mas te digo, desta máquina:
O nordestino é o maquinista
E o condutor.