Enxame

Foi a Marielle

Assim como foi a Beatriz

Assim como foi a Cláudia

Assim como foi o Robson

Assim como foi o Amarildo

Assim como foi o Anderson

E outras tantas e outros tantos

Que este verso não dá conta

“A carne mais barata do mercado é a carne negra”

Até quando?

Até quando?

Até quando?

Foi a Marielle

E outras tantas e outros tantos

Que o poema não dá conta

Penso em Racionais

“Podia ser a minha mãe”

Ou ser a minha tia

Ou ser a minha prima

Ou ser a minha filha

Ou ser a minha irmã

Ou ser a minha sobrinha

Ou ser a minha nora

Ou ser a minha neta

Ou ser a minha amiga

Ou ser a minha colega

Ou ser a minha vizinha

Podia ser qualquer mulher

Cansada de ver seus pares silenciados

Arregaçou as mangas

E de peito aberto rasgou o verbo

Amotinando clamores de cidadanias

"tem gente com fome

tem gente com fome

tem gente com fome"

Foi a Marielle

Assim como foi a Beatriz

Assim como foi a Cláudia

Assim como foi o Robson

Assim como foi o Amarildo

Assim como foi o Anderson

E outras tantas e outros tantos

Que a força emudece

Que o cassetete amolece

“Nas filas, nas vilas, favelas”

Mexeram em vespeiro

O sangue derramado nos irmanou

As senzalas estão em chamas

A casa grande que se cuide

Não daremos a outra face

Nem ofereceremos flores

Cansamos de ser cordeiros

“O preto é bom, mas é valente também”

Foi a Marielle

Assim como foi a Beatriz

Assim como foi a Cláudia

Assim como foi o Robson

Assim como foi o Amarildo

Assim como foi o Anderson

E outras tantas e outros tantos

Que a forca enfraquece

“Cada negro que for mais um negro virá”

Entoando cantos de revoltas

Nas avenidas

Nas praças

Nas igrejas

Nas telas

Nos templos

Nos terreiros

Nas escolas

Nos palcos

Nos saraus

Nos movimentos

Em todas as casas

Em todos os segmentos

Estaremos presentes

De punho erguido cerrado

Feito ferrão afiado cobrando justiças

Oubi Inaê Kibuko, Cidade Tiradentes, 16/03/2018.