Sangue
A minha dor é silenciosa
Esse silêncio se converte em grito
Um grito seco, de quem é detido
De quem é um risco porque tem pensado
A consciência é indestrutível
E por ter ela sou amaldiçoada
Eu sou bandida, sou a censurada
E a minha luta é um mal traçado
A minha mente é como um abismo
Um muro duro, uma anomalia
Mas mesmo em pranto, meu sangue circula
E alimenta minha rebeldia
Sei que assusta gente informada
Pior ainda é gente inconformada
E é por isso que me apontam crime
Pensar além das correntes e caixas
Eu vou lutar contra essa cegueira
Eu vou lutar contra essa censura
Já sei da guerra, opressão, tortura
Mas o meu sangue é mais que derramado
Eu tenho sangue pra me manter viva,
Eu sinto as mãos e os calafrios,
Mesmo com tantos sintomas vazios
De um mundo injusto e alienado
Quem abre os olhos nunca mais descansa
E quando se sente tão amordaçado
Tão combatido, marginalizado
Sente na vida aquele gosto amargo
A gente odeia, odeia apanhando
A gente ama, ama a cantoria
Nos fins da noite, um tsunami doce
Da sensação de lutar mais um dia
É tão difícil lutar em meio a pedras
Mas mais difícil é aceitar calado
Que lancem pedras, temos nosso escudo
Que é acordar pra não ficar parado
Que ocupemos todos os lugares
Que ocupemos pela consciência
Que não calemos o eu inconsolado
Que nosso sangue chama resistência
Luta, afasta de nós o fascismo
Afasta de nós a censura
Afasta de nós o conformismo
Que a rebeldia seja nosso sangue