O lugar que me deram... para sempre
Sinto-me como um verme nojento,
Desses de quem todos se afastam, na esperança de não se sujarem.
Parece doença contagiosa.
Todos se distanciaram.
Não que eu seja de muita conversa,
Mas até disso sinto falta,
Tamanho isolamento a que me submetem.
Sinto-me chata, resmungona, cansativa.
Essa é a impressão que fica.
Não há ninguém disposto a me ouvir.
Mas sei que todos reclamam, e todos os ouvem com bastante atenção.
Às vezes, fico de longe, observando a interação.
Vez ou outra, consigo um pouco de atenção,
Um riso aqui, uma conversa ali.
Nada além disso.
Até percebo uns querendo se aproximar,
Mas seus vínculos são mais fortes.
Estou sempre ali,
Mas ainda assim, ausente a todos,
Pronta, prestativa, atenciosa.
Dedicada, eficiente, ética e confiável.
Mas sempre no fim da fila.
Ouço sempre conselhos do que melhorar, para ‘subir’:
- Você fala baixinho!
Falo alto, então.
- Não sabe argumentar!
Destruo os argumentos dos outros com clareza.
- Não sabe se vender bem!
Mostro resultados consistentes das minhas qualidades.
E a lista da ‘Falta D’ vai sempre crescendo.
Parece um poço sem fundo,
Sem ninguém disposto a atirar-me a corda.
Estou lá. Mas não faço parte dali.
Queria estar presente. Estou gritando, implorando por isso!
Mas não me ouvem,
Ou antes, não me dão a devida permissão, meus gentis caciques.
Parece que ninguém aparecerá para me tirar desse abismo.
Não sei como sair dali sozinha.
Sinto-me cansada até para chorar e me lamentar.
Queria apenas me sentir gente outra vez,
Ter meu real lugar de novo.
Mas anda rondando-me um pensamento:
Aceitar esse verme nojento que ‘sou’,
Não mais me debater,
Emburrecer e ficar ali, calma e tranquila...
Para sempre!
By Marta Almeida: 27/07/2016