POEMA REALISTA
Faz muito que a noite desceu por sobre
A minha cabeceira.
Ao longe as lojas emprestam néons ao rio.
E a mulher gorda, no cimo da esteira,
Usa colírio e ligas de cetim,
Acetinando as carnes intumescidas
Pelo tempo.
No cimo das escadas, meninas esperam
A sua vez, desflorando o seu corpo à
Avidez dos marinheiros.
Nasce a manhã, por detrás do horizonte,
Rubro de cores.
Partem para a faina os pescadores,
Na vã esperança de mais um dia bem produtivo,
Antes de chegarem a casa, junto da mulher,
Que enxuga as lágrimas, por mais um dia
Passado no sobressalto das águas, enquanto
As crianças limpam o mouco às mangas
Da camisa, pano pueril
Que o pouco dinheiro ousou comprar.
Enquanto isso na lixeira, meninos e meninas,
Sujos das mãos à cabeça,
Procuram a sua sorte na subsistência
De mais um dia, recolhendo pão bolorento
E cartão para vender, ao homem dos sete
Ofícios. Muitos adoecem prematuramente,
Mas a pouca gente
Que se preocupa com eles é uma minoria,
Que pouco pode fazer para reverter
Toda esta miséria, produto dos nossos
Tempos, de globalização, que a poucos
Tem dizer,
Menos ainda à pobreza que se propaga.
Jorge Humberto
16/07/07