Madrugada das dúvidas

Na madrugada tem um sono

Tem um sonho a se formar

como um forno a esquentar.

Um cão a procurar seu dono.

Corpo quente em olhos cansados.

Cabeça que não para quieta

em coração de pulsos acelerados

e o sono não abre a maçaneta...

Uma madrugada e tantos milagres,

tantos soldados a acreditar,

tantas nações a despencar nos vales.

Tantas dúvidas armadas a gritar!

Enquanto pululam na chapa quente,

as certezas amordaçadas gritariam,

enquanto macularia indecentemente

o reino das dúvidas contrariam.

Um corpo a procurar sua cabeça;

cem almas perdidas no paraíso;

mil gargantas à marselhesa

no nordestino Brasil passadiço.

Num tempo globalmente colonial,

a dúvida se impõe nos nervosos dedos.

Há solução pra tudo, afinal.

Somos a solução covarde de nossos medos.

Vamos às ruas buscar respostas

que insistimos sabermos de cor.

Pomos as ruas às nossas costas.

Somos a TV sem tirar nem por.

Na madrugada o sono não vem.

Espalha-se por aí a procurar,

um corpo sem mente, de ninguém.

Uma mente vazia a dissertar!