Ah! Se Fôssemos um Povo
Eu quisera que fôssemos um Povo,
Que tivéssemos uma identidade,
Uma marca registrada da nossa cultura,
E que nos olhassem com admiração.
Que esse Povo se transformasse numa Nação,
Que outros Povos vissem nossa estatura,
Singularizada pela solidariedade,
Na construção de algo Novo.
Nosso processo cultural mal nasceu,
Somente quinhentos anos,
Já envelheceu.
A riqueza afrontando a pobreza,
Tornou-se corriqueira,
A beleza e a estética afrontando a deformação,
Tornou-se apenas um contraste visual,
A saciedade afrontando a fome,
O patrimônio imobiliário afrontando o desabrigo,
Tornaram-se somente mazelas sociais.
Hordas de miseráveis silenciosos,
Povoam as periferias das metrópoles,
A aparente passividade se desvanece,
A besta adormecida acorda seus milhares de tentáculos,
E perambula anônima,
Espalhando o terror e o medo,
Espreitando sempre o "melhor" momento.
Faz-se passeatas por qualquer coisa:
Por melhores salários, condições de trabalho, de ensino, etc.
Protestos ocasionais por algum crime chocante,
Passeatas de estudantes, de professores, de trabalhadores em geral,
Paradas gays, etc...
Faz-se lobies corporativistas,
Faz-se de tudo para a obtenção de vantagens.
Ah! Como eu quisera que fossem feitos
Todos esses esforços,
Também, para aquilo que é:
Bom, Belo e Justo.
A construção de uma Ordem,
Que trate das chagas sociais,
Dos seus efeitos e, sobretudo de suas causas.
Assim, no frescor de uma clara manhã,
Quando estiver com meu neto no colo,
Olharei o horizonte longínquo e
Divisarei um belo por do sol e
Ao anoitecer, passearei com ele,
Tranquilo e feliz,
Pelas ruas da minha cidade, do meu e do seu país.