Retórica dos loucos
Na casa ao lado mora um louco;
Ele pula e suspira, grita um pouco
Depois que a avó o põe para dentro
E diz que está exausta de tormento
Na rua atrás da minha há mais um louco;
Não tem casa, canta aos ares, fica rouco
E diz que o mundo é pobre, injusto e feio,
Que um dia arranjará um outro meio...
A viver, outro louco quem diz!
Que um duende o prometeu fazer feliz;
E que um dia escalará o arranha-céu,
Pois lá é que o espera o seu corcel!
Na praça da minha vila há uma louca ---
Reclama que queimaram sua roupa
E estampa a vestimenta que há nela,
Dizendo que atiraram dentro dela!
No mato da lagoa há um mendigo
Que quando vê alguém tapa um ouvido;
Com olhos arregalados de perigo
Revela que de morte é prometido!
Na classe da escola há uma criança
Que às vezes sente estar sem segurança
E treme com o corpo encolhido;
Responde que contar é proibido!
A moça que há na rua se sustenta
E quando ela anda os sãos dizem que "senta"...
E ela sai andando a se apressar,
Com medo de não conseguir chegar!
No condomínio do lugar há uma família ---
O pai já que bateu na mãe e na filha
Disse que sua mulher era traíra
E sua menina nunca o obedecia!
Na igreja há certo são religioso
Que é contra todo caso amoroso ---
De gays, todos queimarão no inferno!
Mas lembra da campanha de inverno!
É loucx: O jovem que namora um francês;
A moça que se sustenta mês a mês;
O mendigo que de morte é prometido;
A criança que contar é proibido;
A senhora que metralhada se diz;
O homem que espera ser feliz...
... E aquele que canta aos ares parece certo!
No mundo quem é são se acha esperto
Que diz ser são para convencer
O que deve ser normal e combater!
Que diz que por amor se faz fiel,
Mas como acreditar nesse tal céu
Que mata, que oprime e corre solto?
Aqui dá medo o são, melhor o louco.