Por asas de Menina, por voos de Mulher

Havia uma menina na casa...

Tão cedo a sua janela abria

Lá fora mirava e sorria

Do pássaro invejava a asa

Só uma asinha --

Voava da casinha!

Se abria a janela

O mundo era dela!

Partia a menina que Os Outros mandavam,

Com os olhos cansados, tão tarde os cerravam

E ia lá fora com a asa rodando,

Ainda no sonho de sair voando...

Sem parar, sem parar, menina!

Existe uma coisa que ilumina --

A luz que sai e é sua!

Com ela que flutua, que se vai à lua...

Sem parar, sem parar, menina!

Para longe da grade que a definha!

O vento que batia nela

Voltou e fechou a janela

E ela lá -- tão fora da casinha

Tentando voar com a asinha!

Mas dentro da mesma casa

Os Outros as correntes balançam

Com grossos ruídos espancam

Trazendo à menina o medo,

Se vendo de novo o brinquedo

Que um dia chamaram de 'minha'

Tentando cortar a asinha --

Que um dia chamarão de 'minha'!

Amanhã outra era amanhece

E presa acorda a menina

De saltos planejados para cair

Vestidos que amarram para não fugir

Amanhã outra asa emudece...

E Os Outros terminam a costura

E tapam a boca com fissura;

De novo rotulam a criança

Naquela tão curta infância

De ser mais uma que se esquece...

Ser tudo, menos esperança!

Menina que sonha o que quer,

Que Os Outros tacham de fraca

Que luta, que cala a estaca

Com a força de ser mulher

Menina que olha a janela

Que sonha em de vez voar

Voando em vez de sonhar

Sem hora para retornar!

Voar, voar e subir...

Com asas para não cair

Voar, voar sendo dela!

Menina que fecha a janela...

- Que luta a não oprimir

- Que oprime para não surtir

E se deparar com o horror

- Se oprime na fuga e na dor

De não mais abrir a janela

Mulher que se encerra nela...

Menina-mulher guerreira,

Mulher-menina que retorna,

Criança contrária à norma,

Que dispara a crescer guerreira

Ou foge, se prende na teia

Que Os outros chamam de faceira --

Mulher, desate essa teia!

E seja você sua faceira!

Se meta em sua própria teia!

Mulher-menina, guerreia!

Mulher, desate essa teia!

E o vento, menina que cresce...

E o tempo, mulher que esvaece...

E o mundo inteiro é seu!

Seu eu não se perdeu!

E o mundo inteiro é seu!

E quando não for seu,

O universo morreu!

Tai Sant Ollem
Enviado por Tai Sant Ollem em 02/09/2014
Reeditado em 02/09/2014
Código do texto: T4946173
Classificação de conteúdo: seguro