Seca
Seca
A queima do pavio que produz o fogo gera a luz
No sertão o sertanejo espera sempre uma luz
O óleo ou querosene, o alimento do fogo
A noite vence a luz, vence a lamparina
No sertão a luz vem do céu, de distância infinita
Vem da noite: vaga- lume, de um olho....
Porém, resolvi escrever sobre o sertanejo, sua dor
Se houver amor assim, não quero louvar o amor pequeno
É justo falar da seca, da dor tão difícil de dizer
De vacas magras, de tão magras caem chão
A pele cobre os ossos, de tão fracas perde perdão
Falar de amor é falar de sertão
Sertanejo é amor ao sertão
Ama seus animais, ama a plantação
Quando vê sua plantação, seu gado, sua criação
Os olhos derramam água (lágrimas) que lavam todo o sertão
Salgada aos animais, salgada a plantação
Palmas de palma vive o sertão
O sertanejo ama sua terra, ama seu lugar, mas não ama a dor vivida
Vê, no sertão, chegar a morte
Vê carcaças de animais pelos vários caminhos do sertão
O homem, o Abutre Vê e alimenta-se do alimento do homem
O abutre alimenta-se da morte, alimenta-se da criação
É isso que lhe causa aflição, é isso que o sertão chora, a morte
Não sei quanto de sertão cabe dentro de um homem
Dentro do sertanejo cabe todo o sertão, mesmo em lágrimas...