Tourada *
Cores, aplausos e vivas: uma cena deprimente.
A força grande e inocente, diante de tanto mal.
O gosto pelo sangue, na arena de areia quente,
o homem massacra o touro, nessa luta desigual.
No dorso, todo espetado, o sangue desce constante
e deixa um tanto hesitante a visão antes tão forte.
Cai a força. A fúria cresce violenta e alucinante.
Fica no ar, flutuante, o gosto amargo da morte.
Uma massa colorida dança e acena provocante.
Inquietante, a força bruta investe. Quer luta ainda.
A lâmina entra e rasga o dorso de forma fulminante.
Vem uma dor ardente e de repente a força finda.
Um gemido longo e doloroso ecoa nesse instante.
O olhar clemente e lacrimoso encara o oponente.
As pernas dobram e o corpo tomba tremulante.
A morte chega - Essa cena vive em minha mente.
O povo se diverte com tão grande sofrimento.
Eu, por dentro, sofro tanto quanto sofre o animal.
Se o seu gemido agonizante, traz contentamento,
meu peito sangra ao contemplar tamanho mal.
Nessa hora eu também sinto meu peito traspassado.
Todos esses momentos, qual tortura, me consomem.
Encolho-me nesse instante e fico inteiro sufocado,
pela vergonha lancinante de ter nascido homem...
* Quando vi, em um documentário, essa miserável cena acontecer, imediatamente comecei a escrever "Tourada". Durante todo o tempo em que escrevi esses versos, as cenas, uma a uma, vinham à minha mente e junto com elas, a figura de Rita Lee, falando, gesticulando, esbravejando e denunciando os que exploram e maltratam os animais, principalmente em rodeios... E ainda hoje, quando penso, ou comento sobre esse poema, é a imagem de Rita Lee que primeiro aparece.
04 de outubro, dia internacional dos animais.