Negra branca

Antes de sair anexei minha pele

Branca

Pra voltar ao mundo cinza

Que me aceita

Por ser tão igual aos iguais

Não esqueci a cabeleira loira

Pra esconder minha carapinha

solta

apenas no meu lar

Grudei o pregador nas narinas

precisa estar afilado

Sem resquícios

do que ele realmente é

Devo ser pontual

Foram anos chegando assim

Tentando ser escultura de mármore

Pra que todos me admirem

Meu sorriso é meia boca

Não quero que notem

meus lábios carnudos

e a boca larga que se alarga

em casa junto aos meus

Uso vestes sóbrias

embora prefira

As cores alegres

Elas revelam meu espírito

Mas essas

somente em casa

Já estou com saudade do batuque

Que toco no meu quintal quando quero

Tenho saudade de meu Ogum e de meus santos

Guardados no meu guarda-roupa

Aqui fora sou crente

Sou mais um dentre muitos tentando

Ser o que a sociedade me quer

Uso óculos escuros

Pra manter minha clandestinidade

Não quero ser preta

Não quero ser negra

Nem me encaixar nesta luta

Contra o racismo

labuta sem fim

Marcela Cristiane
Enviado por Marcela Cristiane em 05/10/2013
Reeditado em 05/10/2013
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