Negra branca
Antes de sair anexei minha pele
Branca
Pra voltar ao mundo cinza
Que me aceita
Por ser tão igual aos iguais
Não esqueci a cabeleira loira
Pra esconder minha carapinha
solta
apenas no meu lar
Grudei o pregador nas narinas
precisa estar afilado
Sem resquícios
do que ele realmente é
Devo ser pontual
Foram anos chegando assim
Tentando ser escultura de mármore
Pra que todos me admirem
Meu sorriso é meia boca
Não quero que notem
meus lábios carnudos
e a boca larga que se alarga
em casa junto aos meus
Uso vestes sóbrias
embora prefira
As cores alegres
Elas revelam meu espírito
Mas essas
somente em casa
Já estou com saudade do batuque
Que toco no meu quintal quando quero
Tenho saudade de meu Ogum e de meus santos
Guardados no meu guarda-roupa
Aqui fora sou crente
Sou mais um dentre muitos tentando
Ser o que a sociedade me quer
Uso óculos escuros
Pra manter minha clandestinidade
Não quero ser preta
Não quero ser negra
Nem me encaixar nesta luta
Contra o racismo
labuta sem fim