Última Aula

A professora ouviu a sirene no fim do intervalo

Sentiu-se presa e sufocada

Em breve falaria as últimas palavras

Nas últimas aulas

No último dia da semana

Na última sala em que gostaria de pisar os pés

Precipitava os conflitos que enfrentaria

A correria de um lado a outro

A gritaria desmesurada

As ofensas trocadas como que por hábito

Avoaria de um canto avião

Bolinha de papel cadente em oposição

E a impossibilidade de braços, pernas e cansaço

Indispostos para o enfrentamento

Fitaria continuamente o relógio.

Que, num grosseiro tic-tac, lento, riria...

Os degraus vagarosos contabilizavam regressivos

Uma oração de paciência sibilava nos lábios

E um último suspiro ante a porta, combativo...

À entrada, todos sentados.

"Conspirativos", pensou a professora.

O "Boa Tarde", prontamente respondido, não ecoou em gracinhas

O ventilador barulhava nitidamente

O vento erguia folhas, vez ou outra,

no vai-e-vem mecânico temporizado

O batuque da caneta na mesa

e o reco-reco na espiral metálica

a-sinfônicos... Era quarta feira de cinzas?!

Os números progressivos da chamada respondiam, sem sinônimos

A professora ao centro,

tablado alto, giz branco, quadro negro.

olhos arregalados em resposta,

bocas fechadas em ordenação

Atenciosos, tábulas rasas, a-lunos...

A professora emudeceu.