DÊS GRAÇAS A MIM MESMO
Estou 365 dias mais velho.
São 365 dias?!
Será que está certo?
Choro por um corpo que não se conhecia.
Um corpo?! Desconhecido?!
Coitada da família, que nessa hora, apenas fica
com os abraços dos braços frios dos entes ausentes
e daquela famosa demonstração de impessoalidade:
“Sinto muito! Mas era tão jovem!”, tenta dizer a frase.
Que bobagem! É tudo uma bobagem!
Preocupo-me com um herdeiro que ainda não veio.
Um herdeiro?! Que nem se quer, veio?!
Que mundo ele verá e herdará, se tudo não descer pelo ralo?
Importo-me com uma mulher que não é minha.
Que não é minha?! Quem garante isso? O marido?
Ela sempre recebe carinhos pesados todos os dias
e durante todas as noites, por conta do caprichoso marido,
realiza desejos, que meu amigo, até Deus negaria.
Que bobagem! É tudo uma bobagem!
Agora entendo o porquê de alguns suicidas.
Agora entendo o porquê de tantos terroristas.
Só não entendo uma coisa: o motivo da vida, se quem vive não deveria.
Eu vivo?!
Do outro lado da linha uma voz murmura: “Sobrevivo!”
365 dias mais novo, ou melhor, parado no tempo.
Sem chorar por quem não se conhecia.
Sem me preocupar com um pequeno cérebro arrogante.
Sem me importar com um simples objeto de prazer.
Sem ser suicida e muito menos terrorista.
Sem me perguntar sobre coisas que não deveria.
Sim! Sobrevivo; e muito bem, obrigado!
Graças ao bom Deus!, ou melhor, Graças a mim mesmo!
Ora bolas. Só me falta essa, agora!
Dês Graças a mim mesmo!